Anticoagulação em Terapia Renal Substitutiva (TRS): Por Que a Heparina Deve Ser Extinta em Pacientes Críticos?

Anticoagulação em Terapia Renal Substitutiva (TRS): Por Que a Heparina Deve Ser Extinta em Pacientes Críticos?

A anticoagulação é um aspecto crucial da Terapia Renal Substitutiva (TRS), especialmente para pacientes em hemodiálise, devido ao risco de coagulação no circuito extracorpóreo. Entre os anticoagulantes utilizados, a heparina é a mais tradicional. No entanto, seu uso em pacientes críticos tem sido cada vez mais questionado devido ao risco elevado de complicações hemorrágicas e outras reações adversas. Neste artigo, exploramos as razões pelas quais a heparina deve ser evitada em pacientes críticos e apresentamos alternativas seguras e eficazes.

O Papel da Anticoagulação em TRS

Durante a hemodiálise, o sangue do paciente passa por um circuito extracorpóreo, onde é filtrado e purificado. Para evitar a coagulação sanguínea durante esse processo, é necessário o uso de anticoagulantes. A heparina, por ser eficaz e de ação rápida, historicamente tem sido a escolha mais comum.

No entanto, pacientes em estado crítico, como aqueles em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), muitas vezes apresentam maior risco de complicações, como sangramentos severos, que podem ser exacerbados pelo uso da heparina .

Os Riscos do Uso de Heparina em Pacientes Críticos

Embora eficaz, a heparina apresenta uma série de riscos que a tornam uma opção menos segura para pacientes críticos, incluindo:

  1. Aumento do Risco de Hemorragia: Pacientes críticos geralmente têm um risco elevado de sangramento devido a doenças concomitantes, procedimentos invasivos e coagulopatias. A heparina, ao inibir a formação de trombos, pode exacerbar esses sangramentos, levando a complicações graves .
  2. Trombocitopenia Induzida por Heparina (TIH): Uma complicação potencialmente fatal, a TIH ocorre quando o corpo reage à heparina com a produção de anticorpos que levam à destruição das plaquetas. Isso pode resultar em uma diminuição perigosa no número de plaquetas, aumentando o risco de trombose paradoxal e outras complicações .
  3. Dificuldade no Controle: O monitoramento da anticoagulação com heparina é complexo, exigindo ajustes frequentes na dose e monitoramento laboratorial constante. Em pacientes críticos, cujas condições podem mudar rapidamente, esse controle é ainda mais desafiador .

Alternativas à Heparina na TRS

Dada a crescente conscientização sobre os riscos da heparina, várias alternativas têm sido desenvolvidas e são consideradas mais seguras para pacientes críticos:

  1. Citrato: O citrato é um anticoagulante regional que se liga ao cálcio no sangue, impedindo a coagulação. Uma vantagem do citrato é que ele age localmente no circuito extracorpóreo, sem afetar o sistema de coagulação do paciente. Isso reduz o risco de sangramento sistêmico, tornando-o uma opção ideal para pacientes em estado crítico .
  2. Heparinas de Baixo Peso Molecular (HBPM): As heparinas de baixo peso molecular têm um perfil de segurança melhor que a heparina não fracionada, com menor risco de trombocitopenia e complicações hemorrágicas. Contudo, elas ainda devem ser usadas com cautela em pacientes críticos .
  3. Argatroban e Bivalirudina: São inibidores diretos da trombina, eficazes em pacientes que apresentam trombocitopenia induzida por heparina. Apesar de serem alternativas eficazes, seu uso em pacientes críticos ainda requer monitoramento cuidadoso .

Por Que a Heparina Deve Ser Extinta em Pacientes Críticos?

Com base nos riscos associados ao seu uso em pacientes críticos e nas alternativas mais seguras e eficazes disponíveis, muitos especialistas defendem que a heparina seja extinta como escolha de anticoagulante em pacientes críticos submetidos à TRS. Isso se deve ao fato de que:

  • Risco elevado de complicações hemorrágicas.
  • Possibilidade de trombocitopenia induzida por heparina (TIH).
  • Desafios no controle e monitoramento em cenários de cuidados críticos.

Conclusão

À medida que a ciência médica avança, é fundamental que os profissionais de saúde reavaliem as práticas tradicionais para melhorar a segurança e a eficácia dos tratamentos. No contexto da TRS em pacientes críticos, a heparina pode não ser a melhor escolha devido aos seus riscos inerentes. Alternativas mais seguras, como o citrato e outros anticoagulantes, devem ser consideradas para garantir um cuidado mais seguro e eficaz.


Se você é um enfermeiro atuando em Terapia Renal Substitutiva e deseja aprimorar seu conhecimento e habilidades, a NefroPós oferece uma pós-graduação focada em Nefrologia, com conteúdo atualizado e adequado às mais recentes práticas clínicas. Invista em sua carreira e na segurança de seus pacientes. Inscreva-se agora!


Referências:

  1. National Kidney Foundation. (2021). Clinical Practice Guidelines and Updates.
  2. Daugirdas, J.T., Blake, P.G., & Ing, T.S. (2015). Handbook of Dialysis (5th ed.).
  3. McGill, R.L., & Ahmed, A. (2018). Anticoagulation in Dialysis: Balancing the Risk of Bleeding and Thrombosis in Critically Ill Patients. Critical Care Medicine, 46(10), 1561-1569.
  4. Warkentin, T.E., & Greinacher, A. (2019). Heparin-Induced Thrombocytopenia. The New England Journal of Medicine, 379(12), 1171-1180.

Veja mais