Introdução
A Insuficiência Renal Aguda (IRA), também conhecida como Lesão Renal Aguda (LRA), é uma condição grave, porém muitas vezes silenciosa, que pode surgir de forma repentina em pacientes hospitalizados. Ela representa um verdadeiro desafio na prática clínica, principalmente para os profissionais de enfermagem, que estão na linha de frente do cuidado diário.
Detectar os sinais iniciais da IRA é essencial para evitar complicações sérias, como a necessidade de hemodiálise ou até risco de morte. Por isso, manter-se alerta e atualizado sobre esse tema é fundamental. Neste artigo, vamos explicar de forma simples e direta o que é a IRA, quais os sinais que devem acender o alerta do enfermeiro, e como o conhecimento nessa área pode salvar vidas.
O que é a IRA (Insuficiência Renal Aguda)?
A Insuficiência Renal Aguda (IRA) é uma condição grave que ocorre quando os rins param de funcionar corretamente de forma rápida e repentina. Isso significa que eles não conseguem mais filtrar o sangue e eliminar as toxinas do corpo como deveriam. Essa falha pode acontecer em poucos dias ou até em poucas horas, sendo mais comum em pacientes hospitalizados, especialmente em unidades de terapia intensiva (Bellomo et al., 2020).
As causas mais comuns da IRA incluem:
- Desidratação severa: quando o corpo perde muito líquido e os rins não recebem sangue suficiente para funcionar;
- Infecções graves (sepse): infecções que se espalham pelo corpo podem afetar o funcionamento dos rins;
- Uso de medicamentos tóxicos para os rins (nefrotóxicos): alguns antibióticos e anti-inflamatórios podem prejudicar os rins;
- Obstruções urinárias: bloqueios no trato urinário que impedem a saída da urina;
- Complicações cirúrgicas ou traumáticas: cirurgias grandes ou traumas podem afetar o fluxo sanguíneo para os rins.
Cerca de 13,3 milhões de pessoas em todo o mundo desenvolvem IRA a cada ano, sendo a maioria dos casos em hospitais. A mortalidade associada pode chegar a 50% em pacientes críticos se não for identificada e tratada precocemente (Bellomo et al., 2020).
Sinais de Alerta no Paciente Hospitalizado
A IRA nem sempre apresenta sintomas no início, por isso é essencial que os profissionais de enfermagem estejam atentos a sinais sutis que podem indicar o problema (Lima, 2023). Alguns sinais de alerta incluem:
- Redução do volume urinário: menos de 0,5 ml/kg/h por mais de 6 horas pode ser um dos primeiros sinais de alerta. Por exemplo, um paciente que normalmente urina 1.500 ml por dia, mas nas últimas 12 horas eliminou apenas 200 ml, precisa de avaliação urgente;
- Inchaços repentinos (edema): especialmente nas pernas, pés, rosto ou pálpebras, indicando acúmulo de líquidos;
- Aumento da pressão arterial: a IRA pode provocar hipertensão devido à retenção de sódio e água;
- Sonolência, confusão mental ou fraqueza: podem indicar acúmulo de toxinas no sangue (uremia);
- Náuseas e vômitos frequentes: aparecem quando o corpo já está intoxicado devido à falência renal;
- Alterações nos exames laboratoriais: creatinina e ureia elevadas são sinais laboratoriais importantes. A creatinina elevada acima de 0,3 mg/dl em 48h ou 1,5 vezes o valor inicial já indica possível lesão renal (Lima, 2023).
Papel da Enfermagem na Prevenção e Detecção Precoce da IRA
Os profissionais de enfermagem desempenham um papel fundamental na prevenção e detecção precoce da IRA, pois estão em contato constante com os pacientes (Melo et al., 2015). Algumas ações importantes incluem:
- Monitorar e anotar o débito urinário rigorosamente: acompanhar a quantidade de urina eliminada pode indicar problemas renais;
- Avaliar edemas e sinais vitais frequentemente: observar inchaços e alterações na pressão arterial;
- Observar mudanças no estado de consciência: sonolência ou confusão podem ser sinais de acúmulo de toxinas;
- Comunicar a equipe médica ao menor sinal de alteração renal: a detecção precoce é essencial para o tratamento eficaz;
- Estar atento ao uso de antibióticos e medicamentos nefrotóxicos: alguns medicamentos podem prejudicar os rins;
- Hidratar o paciente conforme prescrição: manter o equilíbrio hídrico é crucial para o funcionamento renal (Melo et al., 2015).
Situações clínicas que exigem atenção redobrada
Algumas situações clínicas aumentam o risco de desenvolvimento de IRA e exigem atenção especial dos profissionais de saúde:
- Pós-operatório de grandes cirurgias: especialmente cardíacas e abdominais, devido ao risco de complicações que afetam os rins;
- Pacientes com infecção generalizada (sepse): infecções graves podem comprometer a função renal;
- Pessoas com histórico de doença renal ou diabetes: esses pacientes têm maior predisposição a problemas renais;
- Pacientes em uso de contraste iodado para exames: o contraste pode afetar os rins, especialmente em pacientes com função renal comprometida (Santos da Silva et al., 2016).
Exemplo prático: em uma UTI, uma paciente séptica apresentou queda no débito urinário e aumento da creatinina em 48 horas. A equipe de enfermagem acionou rapidamente o nefrologista, e a paciente foi encaminhada para medidas de suporte renal antes de evoluir para diálise. A observação da enfermagem foi determinante para o desfecho favorável (Santos da Silva et al., 2016).
Benefícios para a Prática Clínica do Enfermeiro
Estar preparado para reconhecer os sinais da IRA traz diversos benefícios para a prática clínica do enfermeiro:
- Evitar complicações graves e irreversíveis: a detecção precoce permite intervenções que podem reverter o quadro;
- Reduzir tempo de internação e custos hospitalares: o tratamento eficaz diminui a necessidade de procedimentos mais complexos;
- Melhorar a segurança do paciente: ações preventivas reduzem riscos e promovem melhor recuperação;
- Fortalecer o protagonismo da enfermagem na equipe multidisciplinar: o conhecimento técnico valoriza o papel do enfermeiro;
- Aumentar a autonomia profissional: a capacitação permite decisões mais assertivas no cuidado ao paciente (Genuino et al., 2019).
Além disso, esse conhecimento reforça a autonomia do profissional e melhora a comunicação com médicos e outros profissionais da saúde, tornando o cuidado mais eficiente e humanizado (Genuino et al., 2019).
Conclusão
A Insuficiência Renal Aguda é uma condição séria, mas que pode ser revertida se identificada a tempo. O olhar atento do enfermeiro pode literalmente salvar vidas. Estar atualizado e capacitado para agir diante dos sinais de alerta é uma atitude de responsabilidade e comprometimento com a excelência do cuidado.
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Referências
Bellomo, R., Kellum, J. A., & Ronco, C. (2020). Acute kidney injury. The Lancet, 395(10201), 756–768.
Genuino, A. K. de O., Rocha, R. R. A., & Mendonça, A. E. O. de. (2019). O cuidado de enfermagem ao paciente com lesão renal aguda em hemodiálise na terapia intensiva. Anais do Congresso de Enfermagem do Centro-Oeste e Congresso Internacional de Enfermagem, 1(1).
Lima, C. M. O. (2023). Lesão Renal Aguda em Pacientes Críticos: Atualizações para a Prática Clínica. Revista Brasileira de Terapias Intensivas.
Melo, W. F., Pereira, A. W. R., Alves, V. Q., Saldanha, H. G. A. C., & Sousa, J. da S. (2015). Assistência de enfermagem na urgência e emergência ao paciente vítima de Insuficiência Renal Aguda: uma revisão bibliográfica. Revista Brasileira de Educação e Saúde, 5(2), 06–11.
Santos da Silva, C. M., Almeida Nascimento Silva, D. de, Passos Silva, G. G., Maia, L. F. dos S., & Oliveira, T. S. de. (2016). Insuficiência renal aguda: principais causas e a intervenção de enfermagem em UTI. Revista Recien – Revista Científica de Enfermagem, 6(16), 48–56.