Sinais de Peritonite: Como Atuar Rapidamente na Prevenção e Tratamento

Introdução

A peritonite é, sem dúvida, uma das complicações mais sérias que podem acontecer em pacientes que fazem diálise peritoneal. E o mais preocupante é que ela ainda é bastante comum. Para nós, enfermeiros que atuamos na nefrologia, saber identificar os primeiros sinais dessa infecção não é apenas uma habilidade técnica — é uma atitude que pode salvar vidas.

Muitas vezes, os sintomas da peritonite podem começar de forma bem sutil. Um mal-estar aqui, uma dorzinha ali, um pouco de náusea… e pronto: o que parece algo simples pode rapidamente evoluir para uma infecção grave. O problema é que, justamente por serem sintomas comuns do dia a dia, eles acabam sendo ignorados ou confundidos com outras causas.

Por isso, é essencial que o enfermeiro esteja sempre atento e preparado. Ter esse olhar clínico apurado, saber o que perguntar, observar as pequenas mudanças no estado geral do paciente e, principalmente, agir com rapidez e segurança, faz toda a diferença na evolução do quadro.

Neste artigo, vamos bater um papo claro e direto sobre o que é a peritonite, como ela acontece na diálise peritoneal, quais são os sinais de alerta que o enfermeiro deve observar, como agir diante de uma suspeita e o que fazer para prevenir esse quadro tão grave. E, claro, vamos reforçar o papel essencial da educação continuada para garantir um cuidado de excelência aos nossos pacientes.

O que é peritonite e por que ela é tão perigosa?

A peritonite é uma infecção grave do peritônio, que é a membrana fina e transparente que reveste a parte interna do abdômen e cobre a maioria dos órgãos abdominais. Essa infecção pode acontecer por diferentes causas, mas no contexto da diálise peritoneal, ela normalmente surge quando microrganismos — como bactérias ou fungos — entram em contato com o sistema de infusão, principalmente durante as trocas de solução (Ramesh et al., 2023).

O grande risco da peritonite na diálise peritoneal é que, se não for identificada e tratada logo no início, pode evoluir rapidamente para situações graves, como sepse, hospitalizações prolongadas, falência do peritônio (que faz com que o paciente não possa mais usar essa modalidade de diálise) e até mesmo risco de morte (Ramesh et al., 2023).

De acordo com as diretrizes da International Society for Peritoneal Dialysis (ISPD), publicadas em 2022, a peritonite continua sendo a principal causa de falha da diálise peritoneal no mundo inteiro. Isso significa que muitos pacientes acabam sendo transferidos para a hemodiálise justamente por complicações infecciosas evitáveis. Além disso, estudos mostram que a ocorrência de peritonite está associada a aumento da morbidade, perda da qualidade de vida e maiores custos com internações e antibióticos (Li et al., 2022).

Para o enfermeiro que atua com pacientes em diálise peritoneal, entender os fatores de risco, dominar as técnicas assépticas, reconhecer os sinais precoces e orientar corretamente o paciente e a família é uma estratégia essencial não só para evitar a peritonite, mas também para garantir o sucesso do tratamento e a segurança do paciente (Li et al., 2022).

Sinais e sintomas: o que o enfermeiro deve observar?

Os sinais e sintomas da peritonite nem sempre são evidentes de início. Alguns pacientes relatam dor abdominal intensa desde o começo, enquanto outros apresentam sintomas mais sutis, como mal-estar e fraqueza. Por isso, o olhar clínico do enfermeiro faz toda a diferença (Rosner & Ronco, 2021).

Entre os principais sinais de alerta estão: dor abdominal (geralmente difusa ou em cólica), febre mesmo que leve, líquido da diálise com aparência turva ou com presença de fibrina, náuseas, perda de apetite, vômitos, calafrios, tremores e sensibilidade ao toque no abdômen (Rosner & Ronco, 2021).

É importante lembrar que, na prática clínica, qualquer alteração no aspecto do efluente — como coloração opaca, presença de partículas ou mudança de odor — deve ser investigada. Mesmo que o paciente esteja assintomático, esse pode ser o primeiro indício de uma infecção. Ao menor sinal de suspeita, a conduta é clara: comunicar imediatamente o médico, registrar os achados, coletar amostras para exames e orientar o paciente com clareza (Rosner & Ronco, 2021).

Como prevenir a peritonite em pacientes em diálise peritoneal?

A prevenção da peritonite começa com uma base sólida: a educação. Educar o paciente, a família e a equipe é uma das estratégias mais eficazes para evitar infecções e garantir segurança no tratamento (Silva et al., 2022).

Algumas medidas essenciais incluem a higienização rigorosa das mãos antes de qualquer contato com o sistema de infusão, o uso correto da técnica asséptica durante todas as trocas, e a utilização obrigatória de máscara facial ao manipular o cateter. Além disso, é indispensável reforçar continuamente os sinais de alerta com o paciente e seus cuidadores (Silva et al., 2022).

Avaliações frequentes do local de inserção do cateter e visitas de enfermagem para checagem da técnica domiciliar também são ações que ajudam a identificar riscos antes que a infecção aconteça. A adesão correta à técnica de troca pode reduzir em até 60% a ocorrência de peritonite (Silva et al., 2022).

Condutas imediatas diante de uma suspeita de peritonite

Diante de qualquer suspeita de peritonite, a ação rápida e segura é fundamental. O enfermeiro tem um papel-chave nessa situação, desde o primeiro atendimento até a comunicação com a equipe médica (Li et al., 2022).

O primeiro passo é suspender temporariamente as trocas de solução dialítica, caso haja indicação. Em seguida, o efluente deve ser cuidadosamente avaliado quanto à coloração, presença de fibrina, odor ou aspecto turvo, e uma amostra deve ser coletada para cultura microbiológica (Li et al., 2022).

Simultaneamente, devem ser verificados os sinais vitais, o estado geral do paciente e sinais clínicos de agravamento. Tudo deve ser registrado em prontuário, com clareza e precisão. O médico nefrologista deve ser comunicado imediatamente, e o paciente e seus familiares precisam ser orientados com calma, em uma linguagem que eles entendam (Rosner & Ronco, 2021).

O tratamento é iniciado conforme o protocolo médico e, na maioria dos casos, envolve o uso de antibióticos diretamente na cavidade peritoneal. Casos mais graves podem exigir internação hospitalar (Rosner & Ronco, 2021).

Benefícios para a prática clínica do enfermeiro

Dominar o manejo da peritonite traz inúmeros benefícios para a prática clínica do enfermeiro. Em primeiro lugar, proporciona maior segurança ao paciente e reduz significativamente o risco de complicações, internações e troca de modalidade dialítica (Brown et al., 2020).

Além disso, promove maior adesão do paciente ao tratamento, fortalece o vínculo entre equipe e usuário e reforça a confiança da equipe médica no trabalho do enfermeiro. Profissionais bem-preparados também se destacam no mercado de trabalho, agregam valor ao seu currículo e contribuem para o avanço da prática baseada em evidências (Brown et al., 2020).

Participar de capacitações, estudar protocolos atualizados e compartilhar conhecimentos com a equipe são atitudes que fazem toda a diferença na construção de uma assistência segura e eficaz (Brown et al., 2020).

Conclusão

Reconhecer os sinais de peritonite e saber como agir rapidamente são habilidades essenciais para o enfermeiro que atua com pacientes em diálise peritoneal. Prevenir essa complicação começa com atitudes simples: olhar atento, escuta ativa, educação constante e aplicação de boas práticas.

Tudo isso só é possível quando o profissional investe na sua formação e busca se atualizar continuamente.

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Referências

Brown EA et al. Peritonitis-related outcomes in PD patients. Am J Kidney Dis. 2020.

Li PKT, Chow KM, Van de Luijtgaarden MWM, et al. (2022). The ISPD Peritonitis Recommendations: 2022 Update on Prevention and Treatment. Perit Dial Int.; 42(2):110-153.

Ramesh S, Vardhan H, Viswanathan V. (2023). Peritonitis in Peritoneal Dialysis Patients: A Review. Indian Journal of Nephrology.; 33(1):21–28.

Rosner MH, Ronco C. Peritoneal dialysis-associated peritonitis. Clin J Am Soc Nephrol. 2021;16(3):522-530.

Silva, T. M. et al. (2022). Peritonite em pacientes em diálise peritoneal: fatores associados e estratégias de prevenção. Revista Brasileira de Enfermagem; 75(1):e20210341.

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