Monitoramento Psicológico na Hemodiálise Infantil: Papel da Enfermagem no Apoio Emocional

Introdução

A hemodiálise em crianças é um tratamento desafiador não apenas do ponto de vista físico, mas também emocional. Para um paciente pediátrico, enfrentar sessões regulares de diálise, mudanças no estilo de vida e restrições alimentares pode ser assustador e confuso. E é nesse cenário delicado que o papel da enfermagem vai muito além do cuidado técnico: ele se torna essencial no acolhimento emocional, na escuta ativa e na promoção da saúde mental da criança e da família.

A atuação da enfermagem nefrológica no monitoramento psicológico durante a hemodiálise infantil é cada vez mais reconhecida como fator-chave para o sucesso do tratamento. Entender esse papel é fundamental para qualquer profissional de saúde que deseje prestar uma assistência mais humanizada, completa e segura.

Por que o apoio psicológico é tão importante na hemodiálise infantil?

Crianças em hemodiálise enfrentam rotinas extremamente rígidas. Muitas vezes, elas precisam se ausentar da escola, mudar a alimentação, restringir atividades físicas e lidar com a dor de punções recorrentes. Isso tudo gera medo, ansiedade e até depressão (Warady & Chadha, 2022).

Estudos mostram que crianças com doença renal crônica têm risco aumentado de desenvolver transtornos emocionais. Um levantamento publicado na revista Pediatric Nephrology (2022) apontou que até 40% dos pacientes pediátricos em diálise apresentam sinais de sofrimento psicológico, como tristeza persistente, isolamento e irritabilidade. Nesses casos, o enfermeiro, por estar mais próximo do paciente no dia a dia, se torna uma figura de confiança — e pode identificar precocemente alterações no comportamento que exigem encaminhamento para acompanhamento psicológico (Warady & Chadha, 2022).

Como o enfermeiro pode atuar no suporte emocional da criança em diálise?

O apoio emocional começa com atitudes simples e humanas. Veja algumas práticas que podem ser aplicadas no dia a dia:

  • Criar vínculo afetivo: Chamar a criança pelo nome, perguntar sobre sua rotina, jogos ou desenhos preferidos. O vínculo emocional ajuda a criança a se sentir segura e acolhida (Silva et al., 2021);
  • Estimular a expressão de sentimentos: Incentivar a criança a falar sobre seus medos, dores ou dúvidas. Isso pode ser feito com conversas leves, brincadeiras ou desenhos (Silva et al., 2021);
  • Observar sinais de sofrimento: Mudanças no comportamento, como agressividade, choro frequente ou silêncio repentino, podem ser indicativos de sofrimento emocional. O enfermeiro deve estar atento e anotar essas mudanças (Moraes & Mourão, 2024);
  • Acolher a família: Pais e responsáveis também sofrem com o diagnóstico e o tratamento. Ouvir, orientar e encaminhar quando necessário é parte do cuidado humanizado (Moraes & Mourão, 2024).

A importância da interdisciplinaridade

O cuidado da criança em hemodiálise exige uma equipe multiprofissional. Psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais e médicos trabalham em conjunto. O enfermeiro atua como um elo entre todos, garantindo que as necessidades emocionais e clínicas da criança estejam sendo atendidas (Oliveira, 2012).

Um exemplo disso é a realização de reuniões semanais de equipe para discutir cada paciente. Nessas ocasiões, o enfermeiro pode relatar mudanças no comportamento da criança e sugerir estratégias para melhorar a abordagem emocional durante o tratamento (Oliveira, 2012).

Humanização e criatividade fazem a diferença

Hospitais pediátricos e unidades de nefrologia infantil que adotam práticas de humanização colhem bons resultados. Algumas ações simples fazem toda a diferença:

  • Decoração do ambiente com cores, desenhos e personagens infantis.
  • Presença de brinquedos e jogos no espaço da hemodiálise.
  • Sessões com palhaços, contadores de histórias ou oficinas de arte.
  • Agendamento das sessões de forma a interferir o mínimo possível na rotina escolar.

Essas ações reduzem o estresse da criança e ajudam a criar uma relação mais positiva com o tratamento (Costa et al., 2021).

Benefícios para a Prática Clínica do Enfermeiro

Investir no conhecimento sobre o monitoramento psicológico durante a hemodiálise infantil traz benefícios diretos para a prática clínica:

  • Aumenta a adesão ao tratamento: Crianças acolhidas emocionalmente tendem a colaborar mais com a equipe e aceitar melhor o tratamento (Santos et al., 2022);
  • Previne complicações psicológicas: O enfermeiro pode atuar na prevenção de quadros como depressão e ansiedade, promovendo saúde mental desde o início do tratamento (Santos et al., 2022);
  • Fortalece o vínculo com a família: Pais que se sentem compreendidos e orientados lidam melhor com o tratamento e confiam mais na equipe (Alves et al., 2021);
  • Amplia a visão humanizada do cuidado: O profissional se torna mais sensível às dores que não aparecem nos exames — as dores emocionais (Alves et al., 2021).

Conclusão

O enfermeiro que atua na hemodiálise infantil precisa de um olhar atento não apenas para os sinais clínicos, mas também para os sinais emocionais. Ser suporte, acolhimento e voz ativa na saúde mental dessas crianças é uma missão que exige sensibilidade, conhecimento e dedicação.

E isso só é possível com educação continuada. Profissionais atualizados, capacitados e especializados fazem toda a diferença na vida dos pequenos pacientes renais.

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Referências

Alves, J. S., et al. (2021). Apoio Social da Equipe de Enfermagem na Visão do Paciente Renal Crônico em Hemodiálise. Brazilian Journal of Development, 7(7).

Costa, M. A., et al. (2021). O Papel do Enfermeiro no Acolhimento de Crianças em Hemodiálise e Suas Famílias. Revista Brasileira de Enfermagem, 74(2).

Moraes, A. P. M., & Mourão, C. M. L. (2024). Cuidados de Enfermagem com Pacientes Hemodialíticos: Revisão Narrativa de Literatura. Revista da Faculdade Paulo Picanço, 4(3).

Oliveira, M. C. (2012). Tensão do Papel de Cuidador Principal Diante do Cuidado Prestado a Crianças com Câncer. Revista Cubana de Enfermería, 28(1).

Santos, I. K. A., et al. (2022). Fatores Emocionais e Hemodiálise: Enfermagem e Adesão dos Pacientes Renais Crônicos. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental, 14(1).

Silva, E.C. et al. (2021). A atuação da enfermagem na hemodiálise pediátrica: um olhar humanizado. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro; 11:e3946.

Warady BA, Chadha V. (2022). Chronic kidney disease in children: the global perspective. Pediatric Nephrology.; 37(1):1-10.

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