Treinamento do Paciente em Diálise Peritoneal: O Enfermeiro como Educador

Introdução

Quando falamos em diálise peritoneal (DP), estamos falando de um tratamento que salva vidas — e que, na maioria das vezes, é feito em casa. E quem torna isso possível? O enfermeiro.

O papel da enfermagem na diálise peritoneal vai muito além do atendimento técnico: ele é, acima de tudo, educativo. O paciente precisa ser ensinado, preparado, apoiado e acompanhado. E para isso, o enfermeiro precisa estar pronto, seguro e bem capacitado.

Neste artigo, vamos falar sobre como o enfermeiro atua no treinamento do paciente em DP, como tornar esse momento mais eficaz, quais as boas práticas, os principais desafios e, claro, a importância da especialização em nefrologia para oferecer um cuidado seguro e humanizado.

O que é a Diálise Peritoneal e por que o enfermeiro é essencial?

A diálise peritoneal (DP) é uma forma de tratamento para pacientes com doença renal crônica, na qual o próprio corpo realiza a filtragem do sangue por meio do peritônio, uma membrana que reveste a cavidade abdominal. Nesse processo, uma solução especial chamada dialisato é introduzida no abdômen através de um cateter. Essa solução absorve as toxinas e o excesso de fluidos do corpo, sendo posteriormente drenada, completando o ciclo de purificação (Prado et al., 2023).​

Uma das principais vantagens da DP é a possibilidade de ser realizada em casa, proporcionando ao paciente maior autonomia e qualidade de vida. No entanto, essa autonomia exige que o paciente e, muitas vezes, seus familiares, estejam bem treinados para realizar o procedimento corretamente, manter a higiene adequada, identificar sinais de alerta e prevenir complicações (Prado et al., 2023).​

É nesse contexto que o papel do enfermeiro se torna fundamental. O profissional de enfermagem atua como educador, orientando e capacitando o paciente para que ele possa conduzir o tratamento de forma segura e eficaz. Além disso, o enfermeiro é responsável por monitorar o estado geral do paciente, identificar possíveis complicações precocemente e fornecer suporte emocional durante todo o processo (Prado et al., 2023).​

Dados do Censo Brasileiro de Diálise de 2022 indicam que apenas 4,7% dos pacientes em terapia renal substitutiva no Brasil utilizam a diálise peritoneal. Esse número relativamente baixo pode ser atribuído à falta de informação e treinamento adequado. Com uma educação apropriada e o apoio contínuo de profissionais de saúde, especialmente enfermeiros, é possível aumentar a adesão a esse tipo de tratamento, oferecendo uma alternativa viável e eficaz para muitos pacientes (Silveira Camera, 2022).​

Portanto, a atuação do enfermeiro na diálise peritoneal vai além da simples execução de procedimentos técnicos. Envolve educação, acompanhamento, prevenção de complicações e suporte integral ao paciente, sendo essencial para o sucesso do tratamento e melhoria da qualidade de vida dos indivíduos com doença renal crônica (Silveira Camera, 2022). ​

Treinamento: mais do que ensinar, é capacitar com empatia

Ensinar um paciente a realizar a diálise peritoneal em casa vai muito além de transmitir informações técnicas. É um processo que exige tempo, escuta ativa e adaptação à realidade de cada pessoa. Cada paciente possui suas próprias dúvidas, medos e desafios, e o enfermeiro precisa estar atento a isso (Silva & Andrade, 2022).​

Durante o treinamento, é essencial abordar:​

  • Como realizar as trocas de forma segura;
  • Higiene correta do ambiente e das mãos;
  • Reconhecimento de sinais de infecção, como a peritonite;
  • Cuidados com o cateter;
  • Registro de volume de entrada e saída;
  • Quando procurar ajuda médica​.

Uma dica prática é utilizar a técnica do “ensinar de volta” (teach-back), onde o paciente explica com suas próprias palavras o que aprendeu. Isso ajuda a garantir que ele compreendeu corretamente e se sente confiante para realizar o procedimento sozinho.​ Estudos mostram que treinamentos estruturados e reforço periódico podem reduzir em até 60% os casos de infecção em pacientes em diálise peritoneal domiciliar. Além disso, a empatia demonstrada pelo enfermeiro durante o treinamento fortalece o vínculo com o paciente, promovendo maior adesão ao tratamento (Silva & Andrade, 2022).

Desafios no processo educativo – e como superá-los

Nem todos os pacientes têm o mesmo nível de compreensão sobre saúde. Alguns são idosos, outros têm limitações cognitivas ou vivem em condições precárias. O enfermeiro precisa adaptar o plano educativo à realidade de cada paciente, considerando suas necessidades e limitações (Souza Zerbinato et al., 2024).​

Desafios comuns incluem:​

  • Medo de errar durante o procedimento;
  • Falta de apoio familiar;
  • Dificuldade de acesso a materiais ou ambiente limpo​.

Para superar esses desafios, algumas soluções práticas são:​

  • Repetir as orientações quantas vezes forem necessárias;
  • Utilizar materiais visuais, como cartazes, vídeos e ilustrações;
  • Envolver a família ou cuidador no processo de treinamento;
  • Realizar visitas domiciliares quando possível;
  • Reforçar o vínculo e estar disponível para esclarecer dúvidas​.

A personalização do ensino e o suporte contínuo são fundamentais para o sucesso do tratamento em casa.

Benefícios para a prática clínica: segurança, vínculo e autonomia

Ao se preparar para ser um educador em diálise peritoneal, o enfermeiro:​

  • Garante maior segurança ao paciente, reduzindo complicações como infecções e falhas na técnica;
  • Promove autonomia e confiança no paciente e na família;
  • Fortalece o vínculo com o paciente, melhorando a adesão ao tratamento;
  • Atua de forma resolutiva, promovendo cuidado contínuo e humanizado​.

A atuação qualificada e proativa do enfermeiro na diálise peritoneal está associada a uma redução significativa de complicações, maior adesão dos pacientes ao tratamento e melhora na qualidade de vida, especialmente quando há um enfoque educativo contínuo e suporte emocional (Bastos & Kirsztajn, 2011).

Por que se especializar em Nefrologia?

A Nefrologia é uma área essencial da saúde que exige não apenas conhecimento técnico, mas também sensibilidade, escuta ativa e presença. Quando falamos em diálise peritoneal, falamos de uma prática altamente técnica, sim, mas profundamente humana. O enfermeiro que atua nesse campo tem um papel decisivo na segurança, adesão e qualidade de vida do paciente renal crônico (Souza Zerbinato et al., 2024). Ao se especializar em nefrologia, o enfermeiro:

Aprofunda seus conhecimentos sobre as terapias dialíticas (como diálise peritoneal e hemodiálise), manejo do cateter, prevenção de infecções e cuidados com o paciente renal em todas as fases da doença.

Desenvolve habilidades em educação em saúde, sabendo como ensinar de forma clara, respeitando as limitações de cada paciente e utilizando metodologias ativas, como o ensino participativo e o modelo “ensinar de volta” (teach-back), que melhora significativamente a compreensão e autonomia do paciente (Souza Zerbinato et al., 2024).

Abre novas oportunidades profissionais, podendo atuar em clínicas de nefrologia, hospitais com serviço de terapia renal substitutiva, centros de transplante renal e até no atendimento domiciliar — que é cada vez mais valorizado.

Se torna referência em uma área de alta demanda, com grande escassez de profissionais especializados. A busca por enfermeiros qualificados em nefrologia tem crescido ano após ano, devido ao envelhecimento da população e ao aumento da incidência de doenças renais crônicas (SBN, 2023).

Estudo da ANVISA (2024) revela que unidades com enfermeiros capacitados em nefrologia apresentam índices menores de infecção, falhas técnicas e complicações durante a diálise — mostrando o impacto direto da educação continuada na segurança do paciente (ANVISA, 2024).

Conclusão

O enfermeiro é a base da diálise peritoneal domiciliar. É ele quem ensina, acolhe, orienta e acompanha o paciente nessa jornada desafiadora. Sem o preparo certo, não há segurança. Sem empatia, não há vínculo. Sem conhecimento, não há autonomia. Ser educador nesse processo é uma missão nobre — que exige preparo técnico, sensibilidade emocional e muita paixão. E tudo isso começa com formação de qualidade.

Investir em conhecimento é investir em vidas. É se tornar protagonista no cuidado ao paciente renal e abrir portas para uma carreira sólida, respeitada e com propósito. Quer se tornar um especialista em Nefrologia e fazer a diferença na vida de centenas de pacientes? Então venha conhecer a pós-graduação em Nefrologia da NefroPós! Com aulas práticas, conteúdo atualizado, professores que vivem o dia a dia da hemodiálise e uma abordagem humanizada, você estará 100% preparado para atuar com segurança, empatia e excelência — em qualquer lugar do Brasil.

Referências

ANVISA. (2023). Avaliação Nacional das Práticas de Segurança do Paciente – Serviços de Diálise.

Bastos MG, & Kirsztajn GM. (2011). “Doença renal crônica no Brasil: problemas e soluções.” Revista Saúde Pública.

Prado JP, Dias AC, Oliveira HU, et al. (2023). “O papel do enfermeiro na prevenção de peritonite em pacientes em diálise peritoneal.” Revista Enfermagem UFPE on line, Recife, 8(7):2130-9.

Silva, M. A., & Andrade, L. F. (2022). Empatia na Enfermagem Nefrológica: Como Humanizar o Cuidado Mesmo em Rotina Corrida. NefroPós.

Silveira Camera, F. (2022). “A importância do enfermeiro na prevenção de peritonite em pacientes em tratamento de diálise peritoneal.” Universidade Anhanguera de Passo Fundo.

Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). (2023). Censo da Nefrologia Brasileira. Souza Zerbinato, V. A., et al. (2024). Construção, Validação e Implementação de um Almanaque para Pessoas em Diálise Peritoneal Domiciliar. Saúde e Ambiente, 9(3), 843-863.

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