Sinais de Rejeição do Enxerto: O Que a Enfermagem Precisa Observar?

Introdução

O transplante renal é uma das opções mais desejadas para pessoas que vivem com doença renal crônica. Ele oferece mais qualidade de vida, maior liberdade e, em muitos casos, maior sobrevida em comparação com a diálise. Mas, apesar de ser um avanço incrível da medicina, o transplante ainda apresenta um grande desafio: a rejeição do enxerto.

Para os enfermeiros que atuam em nefrologia, identificar precocemente os sinais de rejeição é fundamental para proteger a saúde e a vida do paciente transplantado. Isso exige conhecimento, atenção aos detalhes e, principalmente, educação continuada. Quanto mais preparado o profissional, melhor será o cuidado prestado.

Neste artigo, você vai aprender quais são os principais sinais de rejeição que a enfermagem precisa observar, como agir diante deles e por que a especialização na área de nefrologia faz toda a diferença nesse cenário.

O Que é a Rejeição do Enxerto?

A rejeição do enxerto renal é uma das complicações mais temidas após o transplante de rim. Ela acontece quando o sistema imunológico do paciente — que normalmente serve para proteger o corpo contra vírus e bactérias — passa a ver o novo rim como um “invasor” e tenta atacá-lo. Mesmo com o uso de imunossupressores, que são medicamentos utilizados justamente para impedir essa resposta de defesa exagerada, a rejeição ainda pode ocorrer. Por isso, é essencial que toda a equipe de saúde, especialmente os enfermeiros que acompanham o paciente de perto, estejam atentos aos sinais e saibam como agir (Coelho & Santos, 2023).

Existem três tipos principais de rejeição. A rejeição hiperaguda é a mais rara atualmente, pois com os avanços nos exames de compatibilidade, ela se tornou quase inexistente. Essa rejeição acontece logo após o transplante, em minutos ou poucas horas, e é causada por anticorpos pré-existentes que reconhecem imediatamente o rim transplantado como algo estranho. Quando ocorre, é grave e exige remoção imediata do enxerto (Colvin et al., 2022).

A rejeição aguda é mais comum e pode surgir nos primeiros dias, semanas ou até meses após o transplante. Ela ocorre quando o organismo começa a reagir de forma mais intensa contra o novo rim, mesmo com o uso dos medicamentos imunossupressores. Os sinais podem incluir febre, dor na região do rim transplantado (geralmente na parte inferior do abdômen), diminuição da quantidade de urina, aumento da pressão arterial e elevação da creatinina no exame de sangue. É uma condição tratável, especialmente se detectada precocemente, e o tratamento normalmente envolve o ajuste das medicações imunossupressoras ou o uso de corticosteroides (Colvin et al., 2022).

Já a rejeição crônica acontece de forma lenta e silenciosa, ao longo de meses ou até anos. Nessa situação, o organismo não ataca o rim de uma só vez, mas vai causando pequenas lesões progressivas que, com o tempo, comprometem o funcionamento do órgão. É mais difícil de ser revertida e pode levar à perda do enxerto. Por isso, o acompanhamento regular com exames e consultas é tão importante, mesmo quando o paciente se sente bem (Colvin et al., 2022).

A rejeição, em qualquer uma das suas formas, exige atenção imediata. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado fazem toda a diferença na preservação do enxerto. Por isso, o enfermeiro precisa estar sempre atento aos sinais clínicos e laboratoriais, reforçar com o paciente a importância da adesão rigorosa à medicação e orientar sobre os sintomas que devem ser comunicados imediatamente à equipe médica (Colvin et al., 2022).

Principais Sinais de Rejeição que a Enfermagem Precisa Ficar Atenta

  • Aumento da Creatinina e Diminuição da Diurese: Um dos primeiros sinais laboratoriais de rejeição é o aumento da creatinina no sangue, indicando que o rim transplantado pode estar falhando. Se o paciente começa a urinar menos, esse é outro alerta vermelho. Sempre que o enfermeiro perceber mudanças no padrão urinário do paciente ou aumento nos exames laboratoriais, deve comunicar a equipe médica com urgência (Rees et al., 2023);
  • Dor ou Sensibilidade na Região do Rim Transplantado: O paciente pode relatar dor, peso ou sensação de desconforto no lado onde foi colocado o enxerto (geralmente na fossa ilíaca). Esse sintoma não deve ser ignorado. Por exemplo, uma paciente transplantada há 15 dias começa a sentir dor no local do rim novo. Mesmo sem febre, esse pode ser um sinal precoce de rejeição aguda (Rees et al., 2023);
  • Febre Sem Causa Aparente: A febre é um sinal de que algo está errado. Quando aparece sem sinais claros de infecção, deve-se considerar a possibilidade de rejeição. Mas, lembre-se que nem toda febre é infecção. Na enfermagem nefrológica, é importante manter o olhar clínico atento e pensar em múltiplas possibilidades (Mendes & Silva, 2020);
  • Ganho de Peso Rápido e Inchaço: Pacientes com rejeição podem apresentar retenção de líquidos, levando ao ganho de peso repentino e edema (inchaço), principalmente em membros inferiores. O controle diário do peso, por exemplo, é um cuidado simples, mas poderoso para acompanhar o estado do enxerto (Mendes & Silva, 2020);
  • Hipertensão Arterial: A pressão alta pode ser tanto uma causa quanto uma consequência da rejeição. Se o paciente começar a apresentar picos de pressão, mesmo tomando os remédios, é importante investigar (Sesso et al., 2022);
  • Mal-estar Geral e Fadiga: Sinais inespecíficos como cansaço excessivo, perda de apetite e sensação de fraqueza também podem indicar que o organismo está reagindo contra o enxerto. Em uma conversa com o paciente, é sempre importante perguntar diariamente como o paciente está se sentindo ajuda a identificar alterações sutis que podem passar despercebidas (Sesso et al., 2022).

Benefícios Para a Prática Clínica da Enfermagem

Dominar os sinais de rejeição não é apenas uma obrigação profissional. É uma forma de salvar vidas. Quando o enfermeiro sabe o que observar e como agir, ele:

  • Atua de forma mais segura e confiante;
  • Contribui para diagnósticos precoces e intervenções rápidas;
  • Previne complicações graves e reduz a chance de perda do enxerto;
  • Estreita a relação com o paciente, ganhando sua confiança.

Algumas recomendações práticas aqui são:

  • Realizar a anamnese diária com atenção;
  • Registrar todos os sinais e sintomas observados;
  • Comunicar alterações imediatamente à equipe médica;
  • Educar o paciente sobre os sinais que ele mesmo deve observar em casa.

Conclusão

A rejeição do enxerto pode parecer um grande desafio, mas com o acompanhamento certo, é possível proteger o novo rim e garantir uma vida com muito mais qualidade para o paciente transplantado. E quem está na linha de frente desse cuidado é o enfermeiro. Quando esse profissional está bem-preparado, com um olhar treinado e conhecimento atualizado, ele consegue perceber os primeiros sinais de rejeição, orientar o paciente e agir de forma rápida e segura. Isso pode salvar o enxerto e evitar complicações graves.

Ser um enfermeiro especializado em Nefrologia faz toda a diferença. É ele quem entende as fases do transplante, domina os efeitos dos imunossupressores, conhece os exames de controle e sabe quando algo não está certo. É ele quem o paciente confia nos momentos mais delicados.

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Referências

Coelho, B. B., & Santos, D. R. (2023). O papel da enfermagem na detecção precoce de rejeição em pacientes transplantados renais. Revista Brasileira de Enfermagem, 76(2), e20220711.

Colvin, M. M., et al. (2022). Antibody-Mediated Rejection: Understanding Mechanisms and Improving Outcomes. Clinical Journal of the American Society of Nephrology, 17(4), 501–512.

Mendes, A. A., & Silva, D. R. (2020). Complicações pós-transplante renal: uma revisão para enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, 73(1), e20190122.

Rees, M. A., et al. (2023). Advances in Transplant Rejection Management. Transplantation Reviews, 37(1), 100657.

Sesso RC, Lopes AA, Thomé FS, Lugon JR, Martins CT. (2022). Relatório do Censo Brasileiro de Diálise: análise de dados da década de 2011-2021. J Bras Nefrol.

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