Introdução
O cateter venoso central, conhecido como CVC, é um tipo de acesso muito utilizado nas unidades de hemodiálise. Ele é essencial, especialmente nos casos em que o paciente ainda não tem uma fístula arteriovenosa pronta para uso, ou quando a fístula ainda está em fase de maturação. Nesses momentos, o CVC permite que o tratamento de hemodiálise comece imediatamente, o que pode ser decisivo para a vida do paciente.
Apesar de ser um recurso muito utilizado, o CVC precisa de cuidados especiais. Se não for manipulado corretamente, pode causar problemas sérios, como infecções na corrente sanguínea e entupimentos. Esses problemas podem colocar em risco a vida do paciente e comprometer o sucesso do tratamento. Por isso, é fundamental que os enfermeiros e os técnicos de enfermagem estejam bem-preparados para cuidar desse tipo de acesso com segurança.
Neste texto, vamos falar sobre as boas práticas no manuseio do CVC durante a hemodiálise. Trazemos orientações simples, baseadas em evidências atuais, para ajudar você a garantir mais segurança para seus pacientes e mais confiança no seu trabalho.
Entendendo o que é o CVC e quando ele é indicado
O CVC é um tubo fino e flexível que é inserido em uma veia de maior calibre, geralmente na veia jugular interna, subclávia ou femoral. Esse cateter é essencial para pacientes que precisam começar a hemodiálise rapidamente, especialmente quando ainda não possuem uma fístula arteriovenosa ou um enxerto pronto para uso. Em situações de emergência ou quando o acesso permanente ainda está em fase de preparação, o CVC permite que a hemodiálise aconteça de forma imediata (Chopra et al., 2019).
Apesar de sua importância, o uso do CVC deve ser temporário. Isso porque ele está associado a maiores riscos de complicações, como infecções da corrente sanguínea, trombose e mau funcionamento do cateter. Segundo um estudo publicado na revista Nephrology Nursing Journal (2022), os CVCs estão associados a taxas de infecção que variam entre 2 a 5 casos por 1000 dias de uso do cateter, tornando essencial o monitoramento rigoroso e os cuidados preventivos.
Higiene e preparo antes da manipulação
Antes de qualquer toque ou manipulação no CVC, é essencial seguir um protocolo rigoroso de higiene. O primeiro passo é a higienização das mãos, que pode ser feita com água e sabão ou com álcool 70%, de acordo com a situação e disponibilidade. Esse é um dos passos mais importantes para evitar a contaminação do cateter e proteger o paciente de infecções graves (O’Grady et al., 2020).
O uso de luvas estéreis é obrigatório. Além disso, o ambiente onde a manipulação será feita precisa estar limpo e organizado. Todos os materiais utilizados devem ser estéreis, como campos, gazes e seringas. A região onde o CVC está inserido deve ser limpa com solução de clorexidina alcoólica a 2%, como recomendado pelas diretrizes do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) e pela Kidney Disease Outcomes Quality Initiative (KDOQI, 2020).
Esses cuidados ajudam a prevenir complicações como a infecção da corrente sanguínea, que está entre as principais causas de internação de pacientes em diálise.
Conexão e desconexão durante a sessão de diálise
Durante a conexão do CVC à linha da máquina de hemodiálise, o cuidado com a esterilidade é essencial. Deve-se preparar um campo estéril e garantir que as conexões sejam feitas sem contato direto com as mãos ou superfícies contaminadas. Cada toque inadequado pode aumentar o risco de infecções (Lok et al., 2020).
Depois da sessão de diálise, é fundamental realizar a heparinização do cateter corretamente, ou seja, preencher o CVC com solução de heparina na dose e concentração adequadas para evitar a formação de coágulos que podem obstruir o cateter. Em seguida, é importante tampar o cateter com dispositivos estéreis e trocar o curativo, sempre que há sinal de sujidade ou descolamento (Moureau et al., 2021).
Essas etapas fazem parte do protocolo de segurança que reduz riscos e preserva o acesso do paciente. Segundo estudos recentes, a adoção rigorosa dessas medidas pode reduzir em até 70% os casos de infecção associada ao cateter em unidades de diálise (Lok et al., 2020).
Como identificar sinais de complicações precocemente
A equipe de enfermagem deve estar atenta a sinais de alerta como:
• Febre sem causa aparente
• Vermelhidão, calor ou secreção no local do cateter
• Dor local ou dificuldade para aspirar e infundir
Estudos mostram que a maioria das infecções relacionadas ao CVC pode ser evitada com boas práticas de enfermagem (Oliveira et al., 2022).
Educação do paciente também é essencial
O cuidado com o cateter venoso central não termina quando a sessão de hemodiálise acaba. Fora da clínica, o paciente também precisa estar bem orientado para evitar complicações graves. Ensinar o paciente, com uma linguagem simples e acessível, é uma estratégia poderosa de prevenção. Ele deve ser orientado a não tocar ou mexer no curativo, manter a região sempre limpa e seca, evitar molhar durante o banho e comunicar imediatamente qualquer sinal de vermelhidão, dor, secreção ou febre (Tayebi et al., 2022).
Além disso, a equipe de enfermagem deve reforçar essas orientações em todas as sessões, usando exemplos do dia a dia para facilitar a compreensão. Estudos mostram que quando o paciente participa ativamente dos cuidados com seu cateter, há uma redução significativa nas taxas de infecção e internações relacionadas ao CVC (Doi et al., 2023).
Benefícios para a prática clínica
Dominar as técnicas de manipulação segura do CVC traz inúmeros benefícios para a prática clínica do enfermeiro. Com mais conhecimento e habilidade, o profissional consegue atuar com maior confiança e autonomia, reduzindo o risco de complicações como infecções, tromboses e falhas no acesso. Isso impacta diretamente na segurança do paciente, diminui a necessidade de hospitalizações e melhora a experiência do tratamento dialítico (Marschall et al., 2023).
Além disso, seguir protocolos bem definidos e atualizados, manter registros organizados e compartilhar boas práticas com a equipe são atitudes que fortalecem a qualidade da assistência. A literatura reforça que o uso de checklists, treinamentos periódicos e cultura de segurança contribuem para uma assistência mais segura e eficiente (Gallotti et al., 2022).
Conclusão
O cuidado com o cateter venoso central vai muito além da técnica: ele envolve atenção aos detalhes, orientação contínua ao paciente e trabalho em equipe. Pequenos erros podem gerar grandes complicações, enquanto atitudes simples e bem executadas fazem toda a diferença na segurança e no bem-estar de quem depende da hemodiálise.
Para oferecer um cuidado de excelência, é fundamental manter-se atualizado e buscar constantemente o aprimoramento profissional. A especialização em Nefrologia amplia o olhar clínico, fortalece o raciocínio técnico e prepara o enfermeiro para lidar com os desafios do dia a dia nas unidades de diálise.
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Referências
Chopra, V. et al. (2019). The Michigan Appropriateness Guide for Intravenous Catheters (MAGIC): Results From a Multispecialty Panel Using the RAND/UCLA Appropriateness Method. Annals of Internal Medicine.
Doi, K. et al. (2023). Preventing catheter-related infections through patient education: a multicenter experience. Journal of Renal Care, 49(1), 21-28.
Gallotti, R. M. et al. (2022). Improving nursing practice in dialysis centers through standardization of catheter care. Nursing Reports, 12(2), 445–452.
KDOQI Clinical Practice Guidelines for Vascular Access: 2019 Update. American Journal of Kidney Diseases (2020).
Lok, C. E. et al. (2020). KDOQI Vascular Access Guideline Update. American Journal of Kidney Diseases.
Marschall, J. et al. (2023). Strategies to prevent central line–associated bloodstream infections in acute care hospitals. Infection Control & Hospital Epidemiology, 44(1), 1-14.
Moureau, N. et al. (2021). Vessel Health and Preservation: Evidence-Based Clinical Practice Guideline for Vascular Access. Journal of the Association for Vascular Access.
Nephrology Nursing Journal. (2022). Catheter-Related Bloodstream Infections in Hemodialysis: A Review of Prevention Strategies.
O’Grady, N. P. et al. (2020). Guidelines for the Prevention of Intravascular Catheter-Related Infections. CDC.
Oliveira, M. P. et al. (2022). Cuidados de enfermagem na prevenção de infecção relacionada ao cateter venoso central em hemodiálise. Revista Brasileira de Enfermagem, 75(4), e20210051.
Tayebi, Z. et al. (2022). The effect of educational interventions on self-care behaviors in hemodialysis patients: A systematic review. BMC Nephrology, 23, 95.