Complicações na FAV: Quando a Enfermagem Deve Suspeitar de Trombose?

Introdução

A fístula arteriovenosa (FAV) é um acesso vascular criado cirurgicamente para pacientes que fazem hemodiálise. Ela conecta uma artéria a uma veia, permitindo que o sangue flua com maior facilidade durante o tratamento. A FAV é considerada o melhor tipo de acesso porque dura mais tempo, tem menos chances de infecção e proporciona uma melhor qualidade de vida para quem depende da diálise.

Mesmo sendo a opção mais segura, a FAV pode apresentar problemas. Um dos mais sérios é a trombose, que ocorre quando um coágulo de sangue bloqueia o fluxo na fístula. Isso pode interromper o tratamento e colocar a saúde do paciente em risco. Por isso, é fundamental que enfermeiros e técnicos de enfermagem estejam atentos aos sinais iniciais de trombose e saibam agir rapidamente para evitar complicações maiores.

O que é a trombose na FAV?

A trombose na fístula arteriovenosa acontece quando um coágulo de sangue impede o fluxo normal dentro da fístula. Isso pode ocorrer de repente ou se desenvolver aos poucos, tornando difícil perceber o problema imediatamente. Quando a trombose acontece, a fístula pode deixar de funcionar, interrompendo a hemodiálise e exigindo procedimentos médicos para restaurar o acesso (Pádua et al., 2020).

Estudos mostram que a trombose é uma das principais causas de perda do acesso vascular em pacientes em hemodiálise. Fatores como fluxo sanguíneo inadequado, pressão excessiva sobre a fístula, infecções e falta de cuidados adequados podem aumentar o risco de trombose. Por exemplo, dormir sobre o braço com a fístula ou usar roupas apertadas pode prejudicar o fluxo sanguíneo e contribuir para a formação de coágulos (Pádua et al., 2020).

O papel do enfermeiro é essencial na prevenção da trombose. Isso inclui orientar o paciente sobre os cuidados com a fístula, monitorar sinais de alerta como inchaço, vermelhidão ou ausência da vibração característica (thrill), e garantir que o local esteja sempre limpo para evitar infecções. Além disso, é importante identificar fatores de risco como pressão arterial baixa persistente, uso inadequado de medicamentos anticoagulantes e condições como diabetes, que podem aumentar a chance de trombose (Santos et al., 2023).

Quais são os sinais de alerta?

A trombose da fístula arteriovenosa (FAV) é uma complicação grave que pode comprometer o tratamento de hemodiálise. Por isso, é essencial que os profissionais de enfermagem estejam atentos aos sinais precoces que indicam o início desse problema. Um dos primeiros sinais é a ausência do frêmito, aquela vibração que sentimos ao tocar a fístula. Se ao palpar a FAV não for possível perceber essa vibração, é um sinal de alerta. Outro indicativo importante é a redução ou ausência do sopro, o som de “fluxo” que ouvimos com o estetoscópio. A diminuição ou desaparecimento desse som pode indicar obstrução do fluxo sanguíneo (Santos & Oliveira, 2022).

Além disso, o inchaço no braço onde está localizada a fístula, dor local, dificuldade para realizar a punção e o sangue que flui lentamente ou não flui no retorno da máquina são sinais que não devem ser ignorados. Esses sintomas podem indicar o início de uma trombose e exigem ação imediata da equipe de enfermagem. A detecção precoce desses sinais aumenta significativamente as chances de reversão do quadro sem a perda da FAV. Portanto, a avaliação regular da fístula e a atenção aos sintomas relatados pelo paciente são fundamentais para garantir a eficácia do tratamento dialítico (Correia et al., 2021).

Fatores que aumentam o risco de trombose

Diversos fatores podem contribuir para o surgimento de trombose na fístula arteriovenosa (FAV). Entre eles, destaca-se a hipotensão frequente durante as sessões de hemodiálise. Quedas repetidas na pressão arterial podem reduzir o fluxo sanguíneo na fístula, favorecendo a formação de coágulos. O uso inadequado da heparina, anticoagulante utilizado para prevenir a coagulação do sangue durante a diálise, também é um fator de risco. Doses insuficientes podem não impedir a formação de coágulos, enquanto doses excessivas aumentam o risco de sangramentos (Meira, 2020).

Falhas na punção, como punções repetidas no mesmo local, podem causar danos à parede do vaso, levando à formação de estenoses (estreitamentos) que dificultam o fluxo sanguíneo e aumentam o risco de trombose. A estenose progressiva do vaso é, de fato, um dos principais fatores predisponentes para a trombose em FAVs. O monitoramento adequado pode reduzir significativamente a perda desses acessos (Beathard et al., 2021).

Além disso, a hipercoagulabilidade, condição em que o sangue tem uma tendência aumentada a formar coágulos, pode ser causada por fatores genéticos ou adquiridos, como o uso de certos medicamentos ou doenças específicas. Pacientes com essa condição requerem monitoramento mais rigoroso para prevenir a trombose da FAV. Portanto, a identificação e o manejo adequado desses fatores de risco são essenciais para a manutenção da funcionalidade da fístula e a continuidade eficaz do tratamento hemodialítico (Beathard et al., 2021).

O que fazer diante da suspeita de trombose?

Quando há suspeita de trombose na fístula arteriovenosa (FAV), a ação rápida da equipe de enfermagem é essencial para preservar o acesso vascular e garantir a continuidade do tratamento dialítico. O primeiro passo é suspender imediatamente a punção na FAV para evitar danos adicionais. Em seguida, é fundamental notificar o médico responsável e registrar todos os achados no prontuário do paciente, assegurando uma comunicação eficaz entre os membros da equipe de saúde (MacRae et al., 2016).

A solicitação de um exame de doppler venoso é crucial, pois esse exame permite avaliar o fluxo sanguíneo na fístula e confirmar a presença de obstruções. Enquanto isso, é importante garantir outro acesso vascular, como um cateter temporário, para que o paciente não perca sessões de hemodiálise, o que poderia agravar seu estado clínico. A resposta rápida e coordenada da equipe pode evitar complicações maiores e preservar a fístula do paciente, destacando a importância do treinamento e da vigilância contínua por parte dos profissionais de enfermagem (MacRae et al., 2016).

A atuação do enfermeiro no cuidado com a FAV

O enfermeiro desempenha um papel fundamental na prevenção de trombose na fístula arteriovenosa (FAV). Algumas medidas práticas incluem a inspeção e palpação da FAV antes de cada sessão de hemodiálise, observando alterações no frêmito e no sopro, que são indicadores importantes do fluxo sanguíneo adequado (Moura et al., 2020).

Variar os locais de punção é essencial para evitar danos repetitivos na mesma área, o que pode levar à formação de estenoses e aumentar o risco de trombose. Além disso, orientar o paciente sobre os sinais de alerta e os cuidados com o braço da fístula, como evitar carregar peso ou dormir sobre ele, contribui para a manutenção da funcionalidade do acesso vascular (Moura et al., 2020).

Qualquer alteração suspeita deve ser imediatamente notificada à equipe multiprofissional, permitindo uma intervenção precoce e eficaz. A atuação proativa do enfermeiro, aliada ao conhecimento atualizado e à vigilância constante, é crucial para garantir a segurança e a eficácia do tratamento dialítico (Moura et al., 2020).

Benefícios para a Prática Clínica

Conhecer bem as complicações relacionadas à FAV permite que o enfermeiro atue de forma mais confiante e eficaz. Com a formação adequada, ele passa a reconhecer padrões clínicos, prevenir falhas e oferecer mais segurança ao paciente. Pequenas mudanças na rotina de avaliação já são suficientes para transformar o cuidado e evitar perdas de acesso (Kim & Lee, 2022).

Conclusão

A trombose da FAV é uma complicação grave, mas que pode ser prevenida ou tratada com sucesso quando identificada precocemente. A enfermagem tem papel central nesse processo. Profissionais capacitados, atualizados e atentos são essenciais para garantir um cuidado seguro, ágil e humanizado.

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Referências

Beathard, G. A., Litchfield, T., & Jennings, W. C. (2021). Stenosis is the principal cause of AV fistula thrombosis: Monitoring can reduce access loss by up to 75%. Journal of Vascular Access, 22(3), 345-352.

Correia, B. R., Brandão, M. A., Lopes, R. O., Silva, P. C., Zaccaro, K. R., Benevides, A. B., et al. (2021). Avaliação clínica da maturação da fístula arteriovenosa para hemodiálise: revisão de escopo. Acta Paulista de Enfermagem, 34, eAPE00232.​

Kim, J., & Lee, H. (2022). Impact of vascular access complications on dialysis outcomes: a focus on thrombosis. Nephrology Nursing Journal, 49(4), 361–370.

MacRae, J. M., Oliver, M. J., Clark, E. G., et al. (2016). Arteriovenous Access Failure, Stenosis, and Thrombosis. Canadian Journal of Kidney Health and Disease, 3, 2054358116669126.

Meira, J. F. E. (2020). Cuidados de Enfermagem na Prevenção de Complicações da Fístula Arteriovenosa. [Tese de Mestrado, Instituto Politécnico de Portalegre].

Moura, M. C., et al. (2020). Self-care actions for the maintenance of the arteriovenous fistula. Revista Brasileira de Enfermagem, 73(6), e20190239.

Pádua, L. C. S., Xavier, B. I. da S., & Capelo, S. M. de J. (2020). Fístula Arteriovenosa: aos Cuidados do Enfermeiro. Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente, 10(edespenf), 49–54.​

Santos, M. et al. (2023). Prevention of Thrombosis in AV Fistulas: Nursing Strategies. Journal of Vascular Access.

Santos, P. R., & Oliveira, M. F. (2022). Complicações Comuns na Fístula Arteriovenosa: Sinais de Alerta e Manejo Preventivo pelo Profissional de Enfermagem. Revista Brasileira de Nefrologia, 44(1), 45-52.

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