Como Acolher a Família da Criança em Hemodiálise: O Papel do Enfermeiro

Introdução

O diagnóstico de doença renal crônica (DRC) em crianças é, sem dúvida, um momento desafiador para toda a família. Ao receber essa notícia, os pais e cuidadores se veem diante de uma jornada cheia de dúvidas e medos. Quando o tratamento recomendado inclui a hemodiálise, a rotina diária da criança e da família sofre grandes transformações. Além de envolver deslocamentos frequentes até a unidade de diálise, a hemodiálise pode alterar a rotina escolar, social e até a dinâmica familiar, gerando estresse, ansiedade e muitas vezes sentimentos de impotência.

Nesse contexto, o papel do enfermeiro vai muito além do cuidado técnico ao paciente. O enfermeiro não é apenas responsável pela aplicação dos tratamentos, mas também é um elo essencial no acolhimento e apoio à família. A presença de um profissional que ofereça suporte emocional, explique as etapas do tratamento e oriente sobre os cuidados diários pode ser crucial para ajudar na adaptação à nova realidade. Acolher, escutar e oferecer um espaço para que as famílias compartilhem suas preocupações é tão importante quanto os cuidados médicos. Com um suporte adequado, a família se sente mais fortalecida, com menos ansiedades e mais preparada para enfrentar os desafios que surgem ao longo do tratamento.

O Impacto da Hemodiálise na Vida da Criança e da Família

A hemodiálise é um tratamento complexo e exigente, que pode modificar profundamente a rotina de uma criança e sua família. As sessões de diálise geralmente exigem deslocamentos frequentes para a unidade de tratamento, o que muitas vezes interfere nas atividades diárias, como a escola e os encontros com os amigos. Para a criança, o processo de hemodiálise pode ser desconfortável, e ela pode sentir-se cansada, com dores ou outros efeitos adversos do tratamento. Além disso, a criança passa a ter uma rotina mais restrita, o que pode afetar sua autoestima e interação social (Maia et al., 2020).

Para os pais e cuidadores, o impacto emocional pode ser ainda mais significativo. Eles frequentemente vivenciam sentimentos de medo, insegurança e culpa, questionando se estão fazendo tudo certo ou se poderiam ter feito algo para evitar a condição da criança. Esse impacto emocional também afeta a dinâmica familiar, pois o tratamento pode sobrecarregar os cuidadores com responsabilidades adicionais, como a administração de medicamentos e a adaptação a uma rotina de cuidados médicos intensivos. Muitas vezes, o estresse e a ansiedade causados pelo tratamento podem prejudicar a saúde mental dos pais, tornando essencial o apoio contínuo tanto para a criança quanto para a família (Maia et al., 2020).

Compreender essas dificuldades é fundamental para o enfermeiro, pois isso permite que o profissional ofereça um atendimento mais humanizado e eficaz. O cuidado técnico, claro, é indispensável, mas o acolhimento, a escuta ativa e a orientação sobre como lidar com as emoções e o estresse também são partes fundamentais do tratamento. Quando a família se sente amparada, as chances de uma adaptação mais positiva aumentam, o que, por sua vez, contribui para a adesão ao tratamento e melhora a qualidade de vida de todos os envolvidos (Evangelista & Bezerra, 2021).

Como o Enfermeiro Pode Apoiar a Família?

  • Escuta ativa e apoio emocional: Um dos primeiros passos no acolhimento da família é demonstrar empatia e disponibilidade para ouvir. O enfermeiro pode criar espaços seguros para que pais e cuidadores expressem seus medos e dificuldades, sem julgamentos. Acolher suas preocupações é essencial para construir um relacionamento de confiança (Evangelista & Bezerra, 2021);
  • Educação em saúde e orientação sobre o tratamento: Muitas vezes, os pais chegam ao serviço de diálise sem conhecimentos suficientes sobre a doença e o tratamento. O enfermeiro tem um papel educativo fundamental, explicando de forma simples e acessível como funciona a hemodiálise, quais os cuidados necessários em casa e como lidar com efeitos colaterais, como fadiga e alterações no apetite (Cavalcante et al., 2010);
  • Incentivo à participação ativa da família: O envolvimento da família no cuidado é um fator determinante para o sucesso do tratamento. O enfermeiro pode estimular os pais a participarem de procedimentos simples, como a organização dos materiais da diálise ou a monitoração de sinais clínicos. Dessa forma, eles se sentem mais confiantes e preparados para lidar com a situação (Cavalcante et al., 2010);
  • Abordagem multiprofissional: O apoio a família deve ser integrado com outros profissionais, como psicólogos, assistentes sociais e nutricionistas. O enfermeiro pode atuar como facilitador desse processo, encaminhando a família para os serviços necessários e promovendo um atendimento mais completo (Silva et al., 2021);
  • Adaptação da rotina e qualidade de vida: A família deve ser orientada sobre estratégias para minimizar o impacto da diálise na vida da criança. Isso inclui ajustar os horários escolares, incentivar atividades lúdicas e sociais compatíveis com sua condição de saúde e manter um ambiente familiar acolhedor e positivo (Silva et al., 2021).

Benefícios para a Prática Clínica do Enfermeiro

O acolhimento adequado aos pacientes e suas famílias é uma das principais maneiras de melhorar a qualidade do atendimento na área de nefrologia pediátrica. Para a criança que está em tratamento de hemodiálise, a experiência pode ser repleta de desafios emocionais e físicos. Assim, o enfermeiro, ao adotar práticas de acolhimento e suporte contínuo, tem a capacidade de criar um ambiente de confiança, o que fortalece o vínculo entre a equipe de saúde, o paciente e a família. A presença de um profissional atencioso pode fazer uma enorme diferença no enfrentamento das dificuldades diárias, especialmente quando se lida com a complexidade de um tratamento prolongado, como a hemodiálise (Costa et al., 2021).

Entre as boas práticas que o enfermeiro pode implementar, destaca-se a criação de materiais educativos de fácil compreensão. Esses materiais são uma ferramenta poderosa, pois ajudam os pais e cuidadores a entenderem melhor o tratamento, a importância da adesão e como lidar com as complicações que possam surgir. A linguagem simples, o uso de ilustrações e exemplos práticos tornam a informação mais acessível e, assim, ajudam na redução da ansiedade dos responsáveis (Costa et al., 2021).

Outra prática fundamental é a criação de grupos de apoio para as famílias. Esses grupos proporcionam um espaço seguro onde os pais podem compartilhar suas experiências, trocar informações e se apoiar mutuamente. O apoio emocional e psicológico entre pares é uma excelente forma de lidar com os sentimentos de isolamento, medo e insegurança que surgem durante o tratamento de hemodiálise (Wong et al., 2023).

Além disso, manter um canal aberto de comunicação com as famílias é essencial para oferecer suporte contínuo. Esse canal pode ser presencial ou virtual, e permite que as dúvidas sejam esclarecidas rapidamente, garantindo que os cuidadores se sintam acompanhados e informados em todo o processo. A comunicação clara e eficiente é crucial para que as famílias se sintam confiantes e preparadas para os cuidados diários com a criança (Wong et al., 2023).

Essas práticas não apenas contribuem para a qualidade do atendimento, mas também aumentam a satisfação dos pacientes e familiares, resultando em um ambiente mais positivo e propício à adesão ao tratamento.

Conclusão

A hemodiálise pediátrica é um tratamento que não afeta apenas a criança, mas também toda a estrutura familiar. A rotina dos pais e cuidadores é transformada, assim como o cotidiano da criança, que precisa lidar com os desafios físicos e emocionais do tratamento. Nesse contexto, o enfermeiro desempenha um papel fundamental ao atuar não apenas na assistência técnica, mas também no acolhimento e orientação da família, oferecendo suporte emocional, esclarecendo dúvidas e garantindo que o tratamento seja conduzido da maneira mais tranquila possível.

Ao adotar práticas de acolhimento, o enfermeiro contribui para um atendimento mais humanizado e eficaz, o que tem um impacto direto na saúde e no bem-estar da criança e de sua família. A capacitação contínua é essencial para que os profissionais estejam sempre atualizados com as melhores práticas de cuidado e saibam como lidar com as dificuldades que surgem nesse tipo de tratamento. Assim, investir em educação continuada é uma maneira de garantir que os pacientes recebam o melhor atendimento possível.

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Referências

Cavalcante, L. M., Silva, E. M., & Lima, M. G. (2010). Crianças em tratamento dialítico: A assistência pelo enfermeiro. Revista de Atenção à Saúde, 17(1), 45-50.

Costa, R. M., Santos, A. C., & Pereira, M. G. (2021). O trabalho da enfermeira na unidade de hemodiálise. Revista Brasileira de Enfermagem, 74(2), e20200415.

Evangelista, A. T., & Bezerra, M. M. (2021). Estratégias utilizadas durante a adaptação da criança ao tratamento de hemodiálise. Id on Line Rev. Mult. Psic., 15(54), 793-800.

Maia, E. R., Silva, L. M., & Souza, R. M. (2020). O papel do enfermeiro na hemodiálise pediátrica. Research, Society and Development, 11(2), e29411225582.

Silva, D. R., Souza, L. M., & Oliveira, A. L. (2021). Crianças e adolescentes com insuficiência renal em hemodiálise: percepção dos profissionais. Revista Brasileira de Enfermagem, 74(3), e20200415.

Wong, L. P., Tan, K. K., & Lee, H. Y. (2023). Adaptações na rotina escolar e familiar de crianças em hemodiálise: como apoiar o paciente e sua família. NefroPós.

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