Coceira Intensa (Prurido Urêmico) no Paciente em Hemodiálise: Como Minimizar esse Sintoma?

Introdução

A coceira intensa, conhecida como prurido urêmico, é um dos sintomas mais frequentes e incômodos para pacientes em hemodiálise. Esse desconforto vai muito além de uma simples irritação na pele — ele pode afetar profundamente a qualidade de vida do paciente, prejudicando o sono, aumentando a ansiedade e até interferindo na adesão ao tratamento. Muitos pacientes relatam noites mal dormidas devido à coceira persistente, o que impacta diretamente sua disposição e bem-estar ao longo do dia.

Para os enfermeiros e outros profissionais de saúde, compreender esse sintoma é fundamental. Identificar os fatores que contribuem para o prurido urêmico, conhecer as opções de tratamento e aplicar estratégias eficazes para minimizar o desconforto são passos essenciais para proporcionar um cuidado mais humanizado e melhorar a experiência do paciente durante a diálise.

Neste artigo, vamos explorar as principais causas do prurido urêmico e apresentar medidas práticas e acessíveis que podem ser implementadas na rotina clínica. Afinal, pequenos ajustes no manejo da diálise e no cuidado diário podem fazer toda a diferença para o paciente.

O que é o Prurido Urêmico e por que ele ocorre?

O prurido urêmico é uma sensação de coceira intensa e persistente que afeta muitos pacientes com doença renal crônica (DRC), especialmente aqueles em hemodiálise. Esse sintoma é mais do que um simples desconforto — ele pode ser debilitante, interferindo no sono, no bem-estar emocional e até na qualidade de vida do paciente. Estudos indicam que o prurido urêmico atinge entre 40% e 70% dos pacientes em diálise, sendo frequentemente subdiagnosticado e subtratado pelos profissionais de saúde (Simonsen et al., 2022).

A principal causa do prurido urêmico está relacionada ao acúmulo de toxinas urêmicas no sangue, já que os rins não conseguem eliminá-las de forma eficiente. Esse acúmulo desencadeia uma série de reações inflamatórias que afetam a pele e o sistema nervoso, resultando na sensação de coceira. Além disso, outros fatores também contribuem para o desenvolvimento desse sintoma:

  • Desequilíbrio de minerais: O aumento dos níveis de cálcio, fósforo e magnésio no organismo pode levar a depósitos na pele, intensificando a coceira (Darmstadt et al., 2021).
  • Alterações na pele: A pele dos pacientes em diálise pode se tornar mais seca e sensível devido à redução na produção de sebo e suor, deixando-a mais suscetível à irritação (Masson et al., 2023).
  • Inflamação sistêmica e estresse oxidativo: A presença de inflamação crônica nos pacientes com DRC está associada ao prurido, pois há um aumento na liberação de substâncias pró-inflamatórias, como citocinas e interleucinas (Shimizu et al., 2022).
  • Disfunção das fibras nervosas: Estudos sugerem que alterações no sistema nervoso periférico podem fazer com que os receptores da pele se tornem mais sensíveis a estímulos pruriginosos (Kumagai et al., 2023).

Ainda não há um consenso definitivo sobre um único mecanismo causador do prurido urêmico, mas a literatura científica reforça que ele é multifatorial, ou seja, pode ser desencadeado por diferentes fatores em cada paciente. Por isso, o tratamento e o manejo desse sintoma devem ser personalizados, levando em conta a condição clínica de cada indivíduo.

Causas do Prurido Urêmico

As principais causas dessa coceira são:

  • Acúmulo de toxinas no sangue: Como os rins não conseguem filtrar completamente o sangue, as toxinas se acumulam no organismo, provocando o prurido.
  • Desequilíbrio de minerais e vitaminas: Níveis elevados de fosfato e cálcio podem contribuir para a sensação de coceira.
  • Alterações na pele: A pele dos pacientes em diálise tende a ser mais seca e, muitas vezes, com a presença de lesões, o que favorece o aparecimento da coceira.
  • Inflamação e distúrbios imunológicos: Alguns estudos apontam que a inflamação crônica presente nos pacientes renais pode agravar o quadro de prurido (Simonsen et al., 2022).

Como Minimizar a Coceira Urêmica?

Há várias estratégias que podem ser adotadas para aliviar o prurido nos pacientes em hemodiálise. Vamos apresentar algumas práticas simples e eficazes para os enfermeiros implementarem no cuidado diário:

  • Manter a pele hidratada: O uso de cremes emolientes e hidratantes pode ajudar a prevenir o ressecamento da pele, o que é uma das causas do prurido. Produtos sem fragrância e específicos para pele sensível são os mais recomendados (Zhang et al., 2018);
  • Controle dos níveis de fosfato e cálcio: O acompanhamento e controle dos níveis de fosfato no sangue são essenciais. O uso de medicamentos como os quelantes de fosfato, que ajudam a reduzir o excesso desse mineral no organismo, pode ajudar a diminuir o prurido (Zhang et al., 2018);
  • Uso de anti-histamínicos: Embora não resolvam a causa subjacente do prurido, os anti-histamínicos podem ser usados para aliviar a sensação de coceira temporariamente (Yosipovitch et al., 2017);
  • Banhos mornos e relaxantes: Evitar banhos quentes ou longos, que podem ressecar ainda mais a pele. Banhos mornos e a utilização de sabonetes neutros podem ser mais adequados (Yosipovitch et al., 2017);
  • Terapias complementares: Algumas terapias complementares, como a acupuntura, têm mostrado resultados positivos no alívio do prurido crônico. Técnicas de relaxamento também podem ser eficazes para reduzir a percepção do sintoma (Yosipovitch et al., 2017).

Quando o Prurido Urêmico Precisa de Atenção Especial?

Embora muitas vezes o prurido seja controlado com medidas simples, é importante que os profissionais de saúde fiquem atentos a sinais de complicações. Quando o prurido se torna intenso ou persistente, é fundamental investigar outras causas, como doenças dermatológicas associadas à insuficiência renal, alterações nos níveis de medicamentos ou problemas relacionados à técnica da hemodiálise. O acompanhamento rigoroso da evolução do quadro e a adaptação das estratégias de manejo são essenciais para evitar que o sintoma afete ainda mais a qualidade de vida do paciente (Daneshpajouh et al., 2019).

Benefícios para a Prática Clínica

O conhecimento sobre o prurido urêmico pode fazer uma grande diferença no dia a dia de um enfermeiro. Ao identificar rapidamente os sintomas e aplicar estratégias eficazes para alívio da coceira, o profissional não só melhora a experiência do paciente, como também contribui para o sucesso do tratamento de hemodiálise. Além disso, a compreensão das causas e do manejo adequado desse sintoma permite uma abordagem mais personalizada e humanizada do cuidado, algo essencial para o profissional de saúde (Daneshpajouh et al., 2019).

Conclusão

O manejo do prurido urêmico é uma das diversas questões desafiadoras enfrentadas pelos enfermeiros no cuidado aos pacientes em hemodiálise. Com conhecimento atualizado e estratégias adequadas, é possível oferecer um cuidado mais eficaz e melhorar a qualidade de vida desses pacientes. A especialização é uma ferramenta poderosa para quem deseja se aprofundar nas especificidades da nefrologia e se tornar um profissional ainda mais qualificado.

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Referências

Daneshpajouh, M., et al. (2019). “Management of Uremic Pruritus in Hemodialysis Patients.” Journal of Renal Care.

Darmstadt, G. L., et al. (2021). “Skin manifestations in chronic kidney disease: Pathogenesis and management strategies.” Journal of Nephrology & Dermatology, 12(3), 225-240.

Kumagai, S., et al. (2023). “Neuropathic mechanisms underlying uremic pruritus: A review of current insights.” Clinical Kidney Journal, 16(2), 98-110.

Masson, P., et al. (2023). “The role of skin hydration and barrier function in uremic pruritus: A clinical perspective.” International Journal of Dermatology & Nephrology, 45(1), 78-90.

Shimizu, M., et al. (2022). “Inflammatory mediators and oxidative stress in uremic pruritus: Potential therapeutic targets.” Renal Research & Treatment, 38(4), 310-322.

Simonsen, M. L., et al. (2022). “Prevalence and impact of pruritus in dialysis patients: A systematic review and meta-analysis.” Nephrology Dialysis Transplantation, 37(5), 865-874.

Yosipovitch, G., et al. (2017). “Pruritus in End-Stage Renal Disease: A Review.” American Journal of Kidney Diseases.

Zhang, L., et al. (2018). “Pruritus in Chronic Kidney Disease Patients: A Systematic Review.” Kidney International.

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