Rotina de Inspeção e Palpação da Fístula Arteriovenosa: Técnicas para Garantir sua Funcionalidade

Introdução

A fístula arteriovenosa (FAV) é um dos pilares do tratamento para pacientes em hemodiálise. Criada cirurgicamente, a FAV proporciona um acesso vascular eficiente, duradouro e com menos complicações, sendo considerada a melhor escolha para esses pacientes. No entanto, para que ela funcione adequadamente, é necessário um cuidado contínuo e atento.

A rotina de inspeção e palpação da FAV é uma das principais ferramentas para garantir sua funcionalidade. Com essas práticas, é possível prevenir problemas como trombose, infecções e falhas no acesso, que podem comprometer a qualidade do tratamento. Nesse contexto, o papel do enfermeiro é crucial, já que ele está diretamente envolvido no monitoramento e no cuidado desses pacientes.

Este artigo traz um guia prático para avaliar a funcionalidade da FAV, além de destacar a importância da capacitação contínua do enfermeiro para promover um cuidado mais seguro e eficaz na área de nefrologia.

O que é uma fístula arteriovenosa e por que ela requer atenção constante?

A FAV é criada por meio da conexão cirúrgica entre uma artéria e uma veia, geralmente no braço. Esse procedimento aumenta o fluxo sanguíneo na veia, tornando-a mais resistente para suportar as sessões frequentes de hemodiálise. Apesar de ser um acesso vascular confiável, a FAV está suscetível a complicações que podem comprometer sua funcionalidade e a saúde do paciente (Sidawy et al., 2022). Os principais problemas relacionados à FAV são:

Trombose: A formação de coágulos pode bloquear o fluxo sanguíneo, inviabilizando o uso da fístula.

Infecções locais: Podem ocorrer no local da inserção ou ao longo do trajeto da FAV, sendo um risco potencialmente grave.

Estenose ou falha no fluxo sanguíneo: Estreitamentos nos vasos podem prejudicar o funcionamento da fístula.

A inspeção e a palpação regulares são fundamentais para identificar sinais precoces dessas complicações. Com uma avaliação cuidadosa, é possível intervir antes que o problema se agrave, garantindo a continuidade do tratamento e a segurança do paciente (Lok & Mokrzycki, 2023).

Técnicas de inspeção da FAV

A inspeção visual é o primeiro passo para avaliar a saúde da FAV e identificar problemas em potencial (Beathard, 2023). Existem algumas boas práticas durante a inspeção, como:

Observar sinais de infecção: Vermelhidão, calor local, inchaço ou secreções são sinais clássicos de infecção e precisam ser avaliados com urgência.

Examinar alterações na pele: Hematomas, cicatrizes ou mudanças na coloração podem indicar lesões ou uso inadequado da fístula.

Comparar os braços: Um braço mais inchado que o outro pode ser sinal de problemas no fluxo venoso, como trombose ou estenose.

A inspeção é especialmente importante para identificar precocemente alterações que podem ser resolvidas antes que se tornem complicações graves (Vachharajani et al., 2023).

Técnicas de palpação da FAV

A palpação complementa a inspeção visual, permitindo que o enfermeiro avalie diretamente o fluxo sanguíneo e identifique alterações no funcionamento da FAV (Lee & Mokrzycki, 2022). Algumas práticas essenciais durante a palpação são:

Sentir o frêmito: O frêmito é uma vibração que indica o fluxo sanguíneo dentro da FAV. Ele deve ser constante e firme.

Palpar o trajeto da fístula: O trajeto da fístula deve ser palpado para identificar endurecimentos ou obstruções, que podem ser sinais de estenose.

Avaliar o pulso: Um pulso forte ou pulsátil pode sugerir um problema de circulação, como hiperfluxo ou falha no acesso.

É importante ensinar o paciente a monitorar o frêmito diariamente em casa é uma medida que empodera o paciente e promove o cuidado colaborativo (Allon et al., 2023).

Manejo de sinais de alerta na FAV

Ao identificar problemas durante a inspeção ou palpação, o enfermeiro deve agir prontamente para minimizar os riscos ao paciente (Lok & Mokrzycki, 2023). Como lidar com as complicações:

Trombose: A ausência de frêmito ou pulso, acompanhada de inchaço ou dor, indica a formação de coágulos. Esse quadro exige encaminhamento imediato ao médico para avaliação e possível intervenção.

Infecções: Vermelhidão, dor local e febre podem ser sinais de infecção grave. A administração de antibióticos ou outras medidas podem ser necessárias.

Estenose ou falha no fluxo: Uma fístula com fluxo reduzido ou pulsação exagerada requer avaliação médica e, muitas vezes, procedimentos como angioplastia ou correção cirúrgica.

O monitoramento regular e a capacitação do enfermeiro são essenciais para identificar esses problemas de forma precoce (Schmidli et al., 2022).

Benefícios para a Prática Clínica

A adoção de uma rotina sistemática de inspeção e palpação traz vários benefícios para a prática clínica do enfermeiro:

Prevenção de complicações graves: A identificação precoce de problemas como trombose e infecções reduz a necessidade de intervenções emergenciais e hospitalizações.

Melhora na segurança do paciente: Pacientes bem orientados sobre o cuidado diário da FAV apresentam melhores resultados clínicos e menor risco de complicações.

Aprimoramento profissional: O domínio dessas técnicas aumenta a confiança do enfermeiro e aprimora sua prática na área de nefrologia.

Desenvolva checklists para garantir que todas as etapas de avaliação da FAV sejam seguidas corretamente.

Conclusão

O cuidado com a fístula arteriovenosa é um elemento-chave para o sucesso da hemodiálise e a segurança do paciente renal. Com práticas simples, como inspeção e palpação, é possível prevenir complicações, preservar o acesso vascular e oferecer um tratamento mais seguro e eficaz.

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Referências

Allon, M., et al. (2023). “Practical assessment of dialysis vascular accesses.” Journal of Vascular Surgery, 78(4), 956-964.

Beathard, G. A. (2023). “Physical examination as a diagnostic tool for arteriovenous fistulas.” Clinical Kidney Journal, 16(2), 185-193.

Lee, T., & Mokrzycki, M. (2022). “Clinical evaluation of arteriovenous fistulas: The role of palpation.” Nephrology News & Issues, 36(5), 32-36.

Lok, C. E., & Mokrzycki, M. H. (2023). “Complications of arteriovenous accesses for hemodialysis.” Seminars in Dialysis, 36(1), 12-20.

Schmidli, J., et al. (2022). “Interventions for dysfunctional dialysis accesses.” European Journal of Vascular and Endovascular Surgery, 63(1), 12-18.

Sidawy, A. N., et al. (2022). “Arteriovenous fistulas for hemodialysis: A guide for maintenance.” Journal of Vascular Access, 23(4), 456-469.

Vachharajani, T. J., et al. (2023). “Assessing hemodialysis vascular access: Best practices.” American Journal of Nephrology, 58(3), 215-222.

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