Febre Durante a Sessão de Hemodiálise: Quando Suspeitar de Infecção Relacionada ao Acesso?

Introdução

Durante as sessões de hemodiálise, é comum que os pacientes apresentem sinais como febre, calafrios ou tremores. Esses sintomas podem ser causados por diferentes fatores, desde reações não infecciosas até infecções graves. Entre as causas não infecciosas, destacam-se as reações pirogênicas, que ocorrem devido à presença de substâncias chamadas endotoxinas na água ou nos equipamentos utilizados na diálise. Essas reações geralmente se manifestam durante a sessão e desaparecem após o término, sem outros sintomas associados.

Por outro lado, a febre também pode ser um sinal de infecção relacionada ao acesso vascular, especialmente em pacientes que utilizam cateteres venosos centrais (CVC). Essas infecções podem evoluir rapidamente e levar a complicações sérias, como bacteremias, que são infecções na corrente sanguínea. Identificar precocemente a causa da febre é fundamental para garantir a segurança do paciente e evitar agravamentos.

A equipe de enfermagem desempenha um papel crucial nesse processo, sendo responsável por monitorar os sinais vitais, reconhecer alterações e agir prontamente diante de qualquer anormalidade. Com conhecimento e atenção, é possível diferenciar entre uma reação pirogênica e uma infecção, garantindo um atendimento eficaz e seguro para o paciente em hemodiálise.

Compreendendo as Causas da Febre na Hemodiálise

A febre durante a hemodiálise pode ter diversas origens, e entender essas causas é essencial para uma abordagem adequada. Uma das causas não infecciosas mais comuns são as reações pirogênicas. Essas reações ocorrem devido à presença de endotoxinas, substâncias produzidas por bactérias, na água ou nos componentes do sistema de diálise. Quando essas endotoxinas entram na corrente sanguínea durante a sessão, podem provocar febre, calafrios e mal-estar. Geralmente, esses sintomas surgem durante a diálise e desaparecem após o término da sessão, sem deixar sequelas graves (Ferreira Schaefer & Cantarino Fernandes, 2021).

Estudos indicam que a contaminação da água utilizada na preparação do dialisato é uma das principais fontes de endotoxinas. A implementação de sistemas de purificação, como a osmose reversa, tem se mostrado eficaz na redução dessas contaminações, diminuindo a incidência de reações pirogênicas (Ferreira Schaefer & Cantarino Fernandes, 2021).

Por outro lado, a febre pode ser um indicativo de infecção relacionada ao acesso vascular, especialmente em pacientes que utilizam cateteres venosos centrais (CVC). Esses cateteres, por serem inseridos em veias profundas e permanecerem por longos períodos, aumentam o risco de infecções. Estudos mostram que a incidência de bacteremia é significativamente maior em pacientes com CVC em comparação com aqueles que utilizam fístulas arteriovenosas (FAV). Portanto, é fundamental que a equipe de enfermagem esteja atenta aos sinais clínicos e saiba diferenciar entre uma reação pirogênica e uma infecção, garantindo um atendimento seguro e eficaz ao paciente (Reichembach Danski et al., 2017).

Identificando Sinais de Infecção Relacionada ao Acesso

Reconhecer os sinais de infecção relacionados ao acesso vascular é essencial para a prevenção de complicações graves em pacientes em hemodiálise. A equipe de enfermagem deve estar vigilante e atenta a qualquer alteração no estado clínico do paciente durante e após as sessões (Teixeira Martins et al., 2017).

Um dos principais sinais de infecção é a febre persistente. Diferente das reações pirogênicas, que geralmente ocorrem apenas durante a sessão de diálise, a febre causada por infecção tende a continuar mesmo após o término da sessão. Além disso, calafrios e tremores intensos podem acompanhar a febre, indicando a presença de bacteremia, uma infecção na corrente sanguínea (Teixeira Martins et al., 2017).

Outros sinais importantes incluem alterações no local do acesso vascular, como vermelhidão, calor, dor ou secreção. Esses sintomas podem indicar uma infecção local que, se não tratada adequadamente, pode evoluir para uma infecção sistêmica. Alterações hemodinâmicas, como hipotensão (pressão arterial baixa) e taquicardia (batimentos cardíacos acelerados), também podem ser observadas em casos mais graves (Reisdorfer et al., 2019).

Diante da suspeita de infecção, é fundamental que a equipe de enfermagem realize a coleta de hemoculturas antes da administração de antimicrobianos e notifique imediatamente a equipe médica. A coleta adequada de amostras para análise laboratorial é crucial para a identificação do agente infeccioso e para a escolha do tratamento mais eficaz. A atuação proativa e informada da equipe de enfermagem é vital para a detecção precoce e o manejo adequado das infecções relacionadas ao acesso vascular, contribuindo significativamente para a segurança e o bem-estar dos pacientes em hemodiálise (Reisdorfer et al., 2019).

Estratégias de Prevenção e Cuidados com o Acesso Vascular

O cuidado com o acesso vascular é uma das etapas mais críticas no tratamento por hemodiálise. Esse acesso representa a “porta de entrada” para o sangue circular pela máquina de diálise e voltar ao corpo do paciente. Por isso, prevenir infecções relacionadas ao acesso é uma responsabilidade compartilhada entre os profissionais de saúde e os próprios pacientes, sendo uma das principais formas de garantir a segurança e a eficácia do tratamento (Coutinho et al., 2021).

Entre as estratégias de prevenção mais eficazes, a higienização rigorosa das mãos ocupa o primeiro lugar. Profissionais devem realizar essa prática antes e após qualquer manipulação do acesso vascular. Essa medida simples, mas muitas vezes negligenciada, reduz drasticamente a transmissão de micro-organismos. Além disso, a técnica asséptica deve ser rigorosamente seguida. Isso inclui o uso de luvas estéreis, antissepsia adequada da pele com soluções alcoólicas ou à base de clorexidina, e atenção especial à troca de curativos e conexões (Coutinho et al., 2021).

Outro ponto fundamental é a educação do paciente. Orientar sobre os cuidados com o acesso em casa, os sinais de infecção (como dor, vermelhidão, secreção ou febre) e a importância de relatar qualquer alteração imediatamente à equipe pode evitar complicações graves. Pacientes bem-informados tendem a aderir melhor às orientações e cuidar com mais atenção de seus acessos (Rezer et al., 2019).

O monitoramento regular também deve fazer parte da rotina da equipe. A avaliação frequente do local do acesso vascular permite identificar sinais precoces de infecção e intervir rapidamente. Protocolos padronizados e treinamento contínuo dos profissionais de enfermagem são indispensáveis para garantir que essas ações sejam realizadas corretamente e de forma uniforme entre todos os membros da equipe (Rezer et al., 2019).

Estudos recentes mostram que a implementação dessas estratégias, associada à formação adequada dos profissionais, pode reduzir em até 50% as taxas de infecção relacionadas ao cateter venoso central (CVC) em hemodiálise. Investir em prevenção é investir na vida e na segurança do paciente renal crônico (Rezer et al., 2019).

Benefícios para a Prática Clínica

A prática clínica do enfermeiro em nefrologia exige conhecimentos específicos e uma capacidade aguçada de reconhecer rapidamente sinais de alerta. Quando o profissional compreende profundamente os riscos de infecção relacionados ao acesso vascular e é capaz de identificar os sintomas de forma precoce, o impacto na qualidade do cuidado ao paciente é imenso (Reisdorfer et al., 2019).

Essa atuação proativa permite intervir antes que a condição se agrave, prevenindo complicações como sepse, internações prolongadas ou falhas no tratamento dialítico. Além disso, essa vigilância constante reforça a confiança do paciente na equipe e cria um ambiente de cuidado mais seguro. Um enfermeiro que age com conhecimento e segurança reduz riscos e promove bem-estar (Reisdorfer et al., 2019).

Outro benefício direto dessa qualificação é a contribuição significativa para a sustentabilidade do sistema de saúde. Com menos infecções, há menos internações, menos uso de antibióticos e menor tempo de permanência hospitalar, o que representa uma economia considerável para as instituições e para o sistema público como um todo (Coutinho et al., 2021).

Para o profissional, o conhecimento especializado fortalece a carreira. A atuação segura, fundamentada em evidências científicas e protocolos atualizados, diferencia o enfermeiro no mercado de trabalho e amplia suas oportunidades. Profissionais capacitados são cada vez mais requisitados em clínicas de diálise, hospitais e centros especializados em nefrologia (Coutinho et al., 2021).

Conclusão

A febre durante a hemodiálise nunca deve ser ignorada. Pode ser um sinal sutil de que algo está errado — e, muitas vezes, está relacionado a infecções graves no acesso vascular. Nesses momentos, a atuação da enfermagem se torna a linha de frente da segurança do paciente. Reconhecer rapidamente os sinais, saber o que observar e agir com confiança faz toda a diferença entre uma complicação evitável e uma internação de risco.

O cuidado com o acesso exige mais do que técnica: exige formação, atualização constante e um olhar atento. Profissionais de enfermagem que se especializam em nefrologia desenvolvem habilidades específicas para lidar com os desafios diários desse campo, melhorando não só os resultados clínicos, mas também sua própria trajetória profissional.

Por isso, se você deseja se destacar, oferecer um cuidado mais seguro e se tornar referência na área, a pós-graduação em Nefrologia da NefroPós é para você. Com conteúdo atualizado, professores experientes e um modelo que une teoria e prática, essa é a oportunidade de transformar sua carreira.

Referências

Coutinho, B. S., et al. (2021). O uso do acesso venoso na hemodiálise: repercussões na saúde. Saúde (Santa Maria), 47(1), 13.

Ferreira Schaefer, R., & Cantarino Fernandes, S. C. (2021). Hemodiálise: análise das taxas de infecção relacionadas aos acessos. Revista Recien – Revista Científica de Enfermagem, 11(33), 178–185.

Reichembach Danski, M. T., Pontes, L., Schwanke, A. A., & Lind, J. (2017). Infecção da corrente sanguínea relacionada a cateter venoso central para hemodiálise: revisão integrativa. Revista Baiana de Enfermagem, 31(1).

Reisdorfer, A. S., Giugliani, R., Gouveia, V. A., Santos, E. K. M., & Silva, J. J. T. (2019). Infecção em acesso temporário para hemodiálise em pacientes com insuficiência renal crônica. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, 11(1), 20–24.

Rezer, F., Faustino, W. R., & Pereira, B. F. O. (2019). Hemodialysis catheter-related infection: systematic review. Revista Prevenção de Infecção e Saúde, 5(1).

Teixeira Martins, B., Hummel, C. M., & Salgado, F. X. C. (2017). Investigação de infecções hospitalares em pacientes submetidos à hemodiálise em hospital público de Brasília. Programa de Iniciação Científica – PIC/UniCEUB – Relatórios de Pesquisa.

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