Introdução
A Doença Renal Aguda (DRA), também conhecida como lesão renal aguda, é uma condição que pode surgir de forma súbita, levando a uma rápida diminuição da função dos rins. Essa situação é comum em ambientes hospitalares, especialmente em unidades de terapia intensiva, e exige atenção imediata da equipe de enfermagem.
Para os profissionais de enfermagem, reconhecer os sinais precoces da DRA e saber quando iniciar o suporte dialítico é essencial para prevenir complicações graves e melhorar o prognóstico do paciente. Este artigo aborda de maneira clara e prática os principais aspectos relacionados à DRA e ao suporte dialítico, destacando a importância da atuação da enfermagem nesse contexto.
Compreendendo a Doença Renal Aguda (DRA)
A Doença Renal Aguda (DRA) ocorre quando os rins perdem, de forma rápida, a capacidade de filtrar o sangue e eliminar resíduos e líquidos do corpo. Isso pode acontecer em questão de horas ou dias e é mais comum em pacientes hospitalizados, especialmente aqueles em estado crítico (Ferreira et al., 2024).
As causas da DRA são variadas. Podem incluir desidratação severa, infecções graves, uso de medicamentos que afetam os rins (como alguns antibióticos e anti-inflamatórios), obstruções no trato urinário e até mesmo cirurgias de grande porte (Ferreira et al., 2024).
Os sinais e sintomas da DRA podem ser sutis no início, mas é fundamental que a equipe de enfermagem esteja atenta a:
- Diminuição do volume urinário: o paciente urina menos que o habitual;
- Inchaço: especialmente nas pernas, tornozelos e ao redor dos olhos;
- Fadiga e fraqueza: sensação constante de cansaço;
- Confusão mental: dificuldade de concentração ou sonolência excessiva;
- Náuseas e vômitos: desconforto gastrointestinal sem causa aparente.
Além disso, exames laboratoriais podem mostrar aumento nos níveis de creatinina e ureia, indicando que os rins não estão funcionando adequadamente. Reconhecer esses sinais precocemente é essencial para iniciar o tratamento adequado e evitar complicações mais graves (Nascimento et al., 2024).
Quando Iniciar o Suporte Dialítico?
Em alguns casos de DRA, os rins não conseguem mais desempenhar suas funções básicas, e é necessário iniciar o suporte dialítico, ou seja, a diálise. A diálise é um procedimento que substitui temporariamente a função dos rins, ajudando a remover resíduos e excesso de líquidos do corpo (Silva & Borges, 2023).
A decisão de iniciar a diálise deve ser baseada na avaliação clínica do paciente, nos resultados laboratoriais e na resposta ao tratamento conservador (Silva & Borges, 2023). As principais indicações para iniciar a diálise incluem:
- Sobrecarga de volume: quando há acúmulo de líquidos no corpo, levando a inchaço generalizado e dificuldade respiratória;
- Distúrbios eletrolíticos: níveis perigosamente altos de potássio no sangue (hipercalemia) que não respondem ao tratamento medicamentoso;
- Acidose metabólica grave: quando o sangue se torna excessivamente ácido e não há resposta ao tratamento clínico;
- Sintomas urêmicos: como náuseas, vômitos, confusão mental e sangramentos, devido ao acúmulo de toxinas no sangue.
É fundamental que a equipe de enfermagem esteja preparada para identificar esses sinais e comunicar imediatamente a equipe médica, garantindo que o suporte dialítico seja iniciado no momento adequado (Genuino et al., 2019).
O Papel da Enfermagem na DRA
A atuação da enfermagem na Doença Renal Aguda (DRA) vai muito além dos cuidados básicos. Em um cenário onde a condição pode evoluir rapidamente e comprometer seriamente a vida do paciente, o olhar atento e as intervenções oportunas do enfermeiro são essenciais para garantir a segurança, estabilização e recuperação do indivíduo (Guzmán-Herrador et al., 2023).
O papel do enfermeiro começa com a detecção precoce da DRA. Isso inclui o monitoramento rigoroso dos sinais vitais, da diurese, do balanço hídrico e do peso corporal, além da observação contínua dos exames laboratoriais, como creatinina, ureia e eletrólitos. Pequenas alterações nesses parâmetros podem indicar o início de um quadro agudo, e agir rapidamente é crucial (Guzmán-Herrador et al., 2023).
Outro aspecto fundamental é a administração segura de medicamentos. Muitos pacientes com DRA estão expostos a drogas que precisam de ajuste de dose conforme a função renal, e o enfermeiro deve estar atento à farmacocinética e evitar o uso de substâncias potencialmente nefrotóxicas. A comunicação com a equipe médica e farmacêutica é parte integrante desse processo. A educação do paciente e da família também é um ponto-chave. Explicar o que é a DRA, os riscos, o tratamento indicado e os cuidados que devem ser tomados durante a internação e após a alta ajuda na adesão ao plano terapêutico, reduzindo ansiedade e aumentando o engajamento com a recuperação (Fleeman et al., 2022).
Além disso, a prevenção de complicações está entre as atribuições do enfermeiro: manter a integridade da pele, prevenir infecções (especialmente associadas a dispositivos invasivos), garantir a segurança durante procedimentos como a inserção de cateteres para diálise e acompanhar possíveis intercorrências durante a terapia dialítica. Estudos recentes reforçam que o envolvimento direto da equipe de enfermagem no manejo da DRA está associado a melhores desfechos clínicos e redução da mortalidade, especialmente quando há protocolos bem definidos e capacitação contínua dos profissionais (Fleeman et al., 2022).
Benefícios para a Prática Clínica
Entender profundamente a Doença Renal Aguda e o suporte dialítico é mais do que um diferencial — é uma necessidade para o enfermeiro que deseja oferecer um cuidado seguro, atualizado e centrado no paciente. Ao adquirir esse conhecimento, o profissional se torna capaz de identificar rapidamente pacientes em risco, o que possibilita o início de intervenções precoces e eficazes (KDIGO, 2023).
Esse preparo contribui diretamente para a redução de complicações como acidose metabólica grave, hipercalemia e sobrecarga hídrica, além de diminuir os índices de mortalidade hospitalar associada à DRA. A atuação precoce e precisa é uma estratégia de cuidado baseada em evidências, que mostra como o papel do enfermeiro é decisivo para a evolução do quadro clínico (KDIGO, 2023).
Com esse conhecimento, o enfermeiro também passa a atuar de forma mais integrada com a equipe multidisciplinar, participando ativamente das discussões de caso, propondo condutas, identificando possíveis riscos e garantindo a execução de cuidados individualizados. Esse protagonismo fortalece o trabalho em equipe e melhora a experiência do paciente durante a internação (Macedo et al., 2024).
Além disso, o domínio dos cuidados em nefrologia permite ao profissional desenvolver habilidades técnicas e científicas específicas, como manejo de cateteres para hemodiálise, cuidados com fístulas, controle da resposta inflamatória e atuação em diálise contínua. Isso amplia suas competências profissionais e abre novas portas na carreira, inclusive em unidades de terapia intensiva, nefrologia clínica e centros de diálise. De acordo com o estudo de Macedo et al. (2024), enfermeiros capacitados em DRA têm maior índice de acerto em decisões clínicas e maior capacidade de liderança em situações críticas.
Conclusão
A enfermagem tem um papel central na identificação, monitoramento e manejo da Doença Renal Aguda. Um simples sinal, quando reconhecido precocemente por um enfermeiro bem-preparado, pode mudar completamente o rumo de um tratamento. Saber quando acionar a equipe médica, quando iniciar medidas de suporte e como atuar durante o processo dialítico é o que diferencia um cuidado comum de um cuidado de excelência.
Por isso, investir em capacitação é mais do que necessário — é estratégico. A especialização em nefrologia proporciona o conhecimento técnico, a segurança e a confiança necessários para enfrentar os desafios da DRA e tantos outros que envolvem o paciente renal.
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Referências
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Fleeman, A. M., et al. (2022). Improving Nurse Knowledge and Recognition of Acute Kidney Injury Using Education and Clinical Tools. Nephrology Nursing Journal, 49(2), 135–142.
Genuino, A. K. O., Rocha, R. R. A., & Mendonça, A. E. O. (2019). O cuidado de enfermagem ao paciente com lesão renal aguda em hemodiálise na terapia intensiva. Anais do Congresso Nacional de Enfermagem em Cuidados Intensivos, 1(1), 93763.
Guzmán-Herrador, B. R. et al. (2023). Role of Nursing in the Early Detection of Acute Kidney Injury in ICU Settings: A Systematic Review. Journal of Clinical Nursing, 32(5–6), 1095–1104.
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Macedo, E., et al. (2024). Impact of Nursing Training in Acute Kidney Injury on Patient Outcomes: A Prospective Cohort Study. Kidney International Reports, 9(1), 45–52.
Nascimento, I. C., Nascimento, S. P. do, Sá, L. M. G. e, Oliveira, R. F. de S., Callou, M. E., Evers, S., Silva, L. G., Branco, B. C. L., Nóbrega, J. T. da, Eneas, M. de A., Fernandes, W. B., Leite, Álvaro M., Silva, E. J. B. da, & Carvalho, A. L. S. de. (2024). As urgências dialíticas e seus principais aspectos clínicos no paciente: uma revisão integrativa. Revista Contemporânea, 4(3), e3825.
Silva, S. M. M., & Borges, B. E. (2023). Assistência de enfermagem ao paciente dialítico em unidade de terapia intensiva. Revista das Faculdades Santa Cruz, 1(1), 49-60.