Cãibras Musculares na Hemodiálise: O Que Causa e Como Aliviar?

Introdução

Quem já acompanhou um paciente durante a hemodiálise sabe: as cãibras musculares podem surgir de repente e causar muita dor. Esse é um sintoma comum, mas que nem sempre recebe a atenção que merece.

Para o enfermeiro, entender o que causa essas cãibras e como ajudar o paciente de forma rápida e eficaz é fundamental. Além de aliviar o sofrimento, esse cuidado melhora a qualidade do tratamento e fortalece o vínculo de confiança com o paciente.

Neste artigo, você vai aprender o que provoca as cãibras durante a hemodiálise, como prevenir, aliviar e qual é o papel do enfermeiro nesse processo. Tudo com uma linguagem simples, prática e baseada em evidências. Vamos lá?

O Que São as Cãibras Musculares na Hemodiálise?

As cãibras são contrações involuntárias e dolorosas dos músculos. Durante a hemodiálise, elas costumam aparecer nas pernas, pés e mãos, e podem ser tão intensas que o paciente precisa interromper a sessão antes do tempo ideal.

Segundo estudos, entre 33% e 86% dos pacientes em hemodiálise já sentiram cãibras durante o procedimento (Weisbord et al., 2014). Ou seja, é um problema frequente que precisa de atenção.

Por Que as Cãibras Acontecem na Hemodiálise?

As causas são diversas, mas as mais comuns são:

  • Retirada excessiva de líquidos (ultrafiltração elevada): Quando o paciente acumula muito líquido entre uma sessão e outra, o enfermeiro precisa retirar um volume maior durante a diálise. Isso pode causar queda da pressão arterial e redução do fluxo de sangue nos músculos, favorecendo o aparecimento de cãibras. Por exemplo,um paciente que chegou com 4,5 kg acima do peso seco e precisa remover esse volume em 4 horas pode apresentar queda de pressão e, na última hora da sessão, começar a sentir cãibras nos pés (Weisbord et al., 2014);
  • Alterações nos eletrólitos: Durante a diálise, há variações nos níveis de sódio, potássio, magnésio e cálcio — minerais que ajudam no bom funcionamento dos músculos. Se esses níveis caem rapidamente, a chance de cãibras aumenta (Ministério da Saúde, 2021);
  • Hipotensão intradialítica: A pressão arterial pode cair durante a sessão, principalmente nos pacientes mais idosos ou frágeis. Essa hipotensão reduz o fluxo de sangue para os músculos e pode gerar dor e contrações musculares (Ministério da Saúde, 2021);
  • Uso de certos medicamentos: Alguns remédios, como os usados para baixar a pressão, também podem favorecer o aparecimento das cãibras (Ministério da Saúde, 2021).

Como Aliviar as Cãibras Durante a Sessão?

Aqui vão algumas estratégias práticas que o enfermeiro pode adotar:

  • Suspender temporariamente a ultrafiltração: Se o paciente estiver com cãibra forte e hipotensão, pare a retirada de líquido por alguns minutos. Isso pode estabilizar a pressão e aliviar o sintoma (Figueiredo & Bridi, 2023);
  • Realizar massagens e alongamentos suaves: Alongar o músculo afetado com cuidado e fazer massagem pode ajudar a reduzir a dor. É importante conversar com o paciente e pedir sua colaboração;
  • Ajustar a posição do corpo: Incentivar o paciente a mudar de posição, levantar os pés ou sentar de forma mais confortável pode melhorar a circulação e aliviar a contração muscular;
  • Aplicar compressas mornas (quando possível): O calor relaxa a musculatura. Se for viável, uma compressa morna pode ser usada na área afetada;
  • Oferecer líquidos orais (se permitido pela equipe médica): Um pouco de água com sal ou uma solução eletrolítica pode ser indicada em casos específicos, com autorização do nefrologista (Figueiredo & Bridi, 2023).

Como Prevenir as Cãibras nas Próximas Sessões?

Prevenção é o melhor caminho. Algumas dicas que o enfermeiro pode reforçar com o paciente:

  • Controlar a ingestão de líquidos entre as sessões. O ideal é que o ganho interdialítico não ultrapasse 2 a 2,5 kg.
  • Evitar o consumo excessivo de sal, pois o sódio aumenta a sede e pode piorar o acúmulo de líquido.
  • Estimular o uso de meias elásticas ou exercícios leves nos membros inferiores (com orientação médica), para melhorar a circulação.
  • Ajustar a velocidade da ultrafiltração: sempre que possível, retirar líquidos de forma mais lenta e confortável.
  • Acompanhar os níveis de eletrólitos e informar ao médico qualquer alteração nos exames (Moura & Silva, 2022).

Benefícios para a Prática Clínica do Enfermeiro

O conhecimento sobre as cãibras musculares e seu manejo traz muitos benefícios para o dia a dia do enfermeiro:

  • Reduz a dor e o sofrimento do paciente;
  • Evita interrupções da sessão de diálise;
  • Melhora a adesão ao tratamento;
  • Demonstra preparo e cuidado humanizado;
  • Valoriza a atuação do enfermeiro como protagonista no tratamento.

Além disso, o domínio desse tema fortalece a relação entre enfermeiro, paciente e equipe multiprofissional, criando um ambiente de confiança e segurança.

Conclusão

As cãibras musculares na hemodiálise podem parecer algo simples, mas afetam diretamente a qualidade de vida do paciente. O enfermeiro preparado é capaz de identificar, aliviar e prevenir esse sintoma com conhecimento técnico e sensibilidade.

Por isso, investir em educação continuada é essencial. Quanto mais você se aprofunda nos temas da Nefrologia, mais preparado está para oferecer um cuidado de excelência, com mais segurança, autonomia e reconhecimento profissional.

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Referências

Figueiredo, A. E., & Bridi, R. A. (2023). Enfermagem em Nefrologia: guia prático para o cuidado dialítico. São Paulo: Manole.

Ministério da Saúde. (2021). Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Doença Renal Crônica.

Moura, F. G., & Silva, R. R. (2022). “Manejo de cãibras musculares na hemodiálise: revisão integrativa.” Revista Brasileira de Enfermagem, 75(2), e20210234.

Weisbord, S. D., Fried, L. F., Mor, M. K., et al. (2014). “Associations of hemodialysis treatment time and ultrafiltration rate with clinical outcomes: The HEMO study.” Kidney International, 85(3), 665–671.

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