Acolhimento na Primeira Sessão de Hemodiálise: Como Reduzir o Medo e a Ansiedade?

Introdução

A primeira sessão de hemodiálise costuma ser um momento marcante e delicado para o paciente. Medo, insegurança, dúvidas e até mesmo resistência são sentimentos muito comuns nesse início. Para quem nunca passou por esse processo, a imagem de máquinas, acessos venosos e mudanças bruscas na rotina pode gerar muita ansiedade.

Nesse contexto, o papel do enfermeiro vai muito além do cuidado técnico. A escuta, o acolhimento e a forma como o profissional se comunica com o paciente fazem toda a diferença. É justamente nesse primeiro contato que construímos confiança, transmitimos segurança e ajudamos o paciente a entender que, mesmo com os desafios, ele não está sozinho.

Este artigo é um convite para refletirmos sobre a importância de um acolhimento humanizado na primeira sessão de hemodiálise — e como isso impacta diretamente na adesão ao tratamento, no bem-estar emocional e na qualidade de vida do paciente renal crônico.

Por que a primeira sessão de hemodiálise gera tanto medo?

O medo do desconhecido é natural. Quando um paciente inicia a hemodiálise, ele está lidando com a descoberta de uma doença crônica, muitas vezes após internações, sintomas debilitantes ou mudanças abruptas em sua rotina. E então, de uma hora para outra, ele é colocado diante de uma máquina que vai fazer o papel dos rins — um processo complexo, que dura várias horas, três vezes por semana, e que pode continuar por toda a vida (Teles et al., 2024).

Além disso, há medos mais específicos:

  • Medo da dor da punção;
  • Medo de passar mal durante a sessão;
  • Medo de morrer na máquina;
  • Medo de perder a independência;
  • Medo de ser rejeitado pela família ou pela sociedade.

Esses sentimentos podem causar crises de ansiedade, alterações na pressão arterial e até a recusa em iniciar ou continuar o tratamento. Por isso, o acolhimento humanizado é fundamental (Teles et al., 2024).

Acolhimento: o primeiro cuidado que transforma o tratamento

O acolhimento vai além de uma recepção cordial. Ele envolve escuta ativa, empatia e compreensão da experiência do outro. No contexto da hemodiálise, significa estar ao lado do paciente, oferecendo informações claras, apoio emocional e confiança (Guedez et al., 2021).

Algumas dicas práticas para o acolhimento na primeira sessão são:

  • Apresente-se e explique o que vai acontecer: Chamar o paciente pelo nome, explicar passo a passo o que será feito e o porquê de cada procedimento reduz a sensação de desamparo (Guedez et al., 2021);
  • Utilize uma linguagem simples: Evite termos técnicos. Em vez de dizer “vamos conectar você ao dialisador”, prefira: “essa máquina vai fazer o trabalho dos seus rins, ajudando seu corpo a eliminar o que não precisa” (Guedez et al., 2021);
  • Permita que o paciente fale: Ouça os medos, as histórias e as dúvidas sem julgamento. Às vezes, o que ele mais precisa é ser ouvido (Borges et al., 2024);
  • Acolha a família ou acompanhante: Muitos pacientes chegam acompanhados. Incluir essas pessoas no acolhimento fortalece a rede de apoio e traz segurança ao paciente (Borges et al., 2024);
  • Observe os sinais não verbais: Tremores, respiração ofegante, suor nas mãos, fala acelerada. Esses sinais de ansiedade devem ser reconhecidos e acolhidos (Borges et al., 2024);
  • Crie um ambiente acolhedor: Sempre que possível, reduza ruídos, mantenha uma iluminação confortável e ofereça uma manta ou travesseiro. O conforto físico também ajuda na segurança emocional (Borges et al., 2024).

Exemplo clínico: Dona Lúcia e o poder do acolhimento

Dona Lúcia, 62 anos, chegou à clínica chorando, com a pressão elevada e recusando a punção. A equipe se aproximou com paciência. A enfermeira sentou-se ao lado dela, segurou sua mão e disse: “Você está com medo, né? É normal. Mas estamos aqui com você. Vamos passar juntas por isso” (Campos et al., 2022).

Ela explicou o que iria acontecer e falou com calma, olhando nos olhos. Após alguns minutos, Dona Lúcia respirou fundo e deixou a sessão começar. Ao final, emocionada, agradeceu dizendo: “Eu achei que ia morrer aqui, mas você me fez sentir segura.”

Esse é o poder do acolhimento (Campos et al., 2022).

Impacto na prática clínica do enfermeiro

Profissionais que dominam técnicas de acolhimento e comunicação terapêutica conseguem:

  • Melhorar a adesão do paciente ao tratamento;
  • Reduzir episódios de ansiedade e agitação durante a sessão;
  • Prevenir intercorrências clínicas relacionadas ao estresse;
  • Criar vínculos duradouros com os pacientes e familiares;
  • Humanizar o ambiente da clínica.

Além disso, saber acolher bem o paciente é também um diferencial profissional. Enfermeiros preparados para lidar com o aspecto emocional da doença renal são cada vez mais valorizados (Mendonça & Oliveira, 2023).

Educação continuada: o segredo do cuidado de excelência

A prática da hemodiálise envolve técnicas específicas, mas também exige sensibilidade, empatia e preparo emocional. E isso se conquista com capacitação, estudo constante e troca de experiências (Nascimento et al., 2020).

A pós-graduação em Nefrologia da NefroPós é a porta de entrada para enfermeiros que desejam se aprofundar no cuidado ao paciente renal, com uma formação completa que une teoria, prática e humanização. Com ela, você estará mais preparado para lidar com momentos desafiadores — como a primeira sessão de diálise — com conhecimento, sensibilidade e segurança.

Conclusão

Acolher bem um paciente na primeira sessão de hemodiálise é um gesto simples que transforma a jornada dele no tratamento. É quando mostramos que ele não está sozinho, que há uma equipe por trás, pronta para cuidar, escutar e apoiar.

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Referências

Borges, C. M. R., Oliveira Junior, J. S. de, Campos, L. R. G. de, Scholze, A. R., & Alves, J. D. (2024). Depressão e ansiedade em pacientes renais crônicos submetidos à hemodiálise durante a pandemia de Covid-19. Advances in Nursing and Health, 6, 1–15.

Campos, F. H., Silva, J. R. da, Borges, K. O., & Campos, M. L. de S. (2022). A percepção dos pacientes em hemodiálise sobre o acolhimento da enfermagem. Repositório Institucional FUPAC/UNIPAC.

Guedez, B. B., Lacerda, M. R., Nascimento, J. D., Tonin, L., & Caceres, N. T. G. (2021). Cuidados de enfermagem na hemodiálise: revisão integrativa. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, 13, 653–660.

Mendonça, A. C., & Oliveira, M. L. (2023). O papel do enfermeiro na sessão de hemodiálise: uma revisão bibliográfica. Revista Formação Técnica, ISSN 1678-0817.

Nascimento, R. B. do, Ataide, M. T., Oliveira, A. B. S., Oliveira, A. C. B. D., Chagas, G. A. D., Santos, G. F. D., Lopes, G. de S., Rosendo, R. D. O., Panelli, R., & Barbosa, V. V. (2020). Relato de experiência: a percepção do acadêmico de enfermagem em relação à ansiedade e medo do paciente cirúrgico. Research, Society and Development, 9(11), e56291110337.

Teles, V. R., Silva, T. N., Gomes, E. F., Nogueira, R. C. S., Tavares, C. M. M., & Tavares, M. M. (2024). Paciente em hemodiálise – sobre o início do seu tratamento e sua interpretação frente ao acolhimento. Revista Mosaico, 15(2).

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