Fístula Arteriovenosa: Como Ensinar o Paciente a Cuidar com Segurança?

Introdução

A fístula arteriovenosa (FAV) é uma verdadeira aliada na vida de pacientes que fazem hemodiálise. Ela é considerada o melhor acesso vascular para quem precisa desse tratamento por longos períodos. Mas, apesar de sua importância, muitos pacientes não sabem como cuidar corretamente da fístula — e é aí que a enfermagem entra em cena com um papel essencial.

Ensinar o paciente a cuidar da FAV com segurança pode evitar infecções, tromboses e até perdas irreversíveis do acesso. Neste artigo, vamos falar de forma simples sobre o que é a fístula, os principais cuidados que devem ser ensinados ao paciente e como a enfermagem nefrológica pode fazer a diferença nesse processo.

O que é a Fístula Arteriovenosa (FAV)?

A Fístula Arteriovenosa, conhecida como FAV, é um tipo de acesso vascular criado cirurgicamente para pacientes que fazem hemodiálise. Ela é considerada o melhor tipo de acesso a longo prazo por ser mais segura, eficaz e ter menor risco de complicações infecciosas (Kugler et al., 2023).

A FAV é feita ao unir diretamente uma artéria com uma veia, geralmente no braço do paciente. Isso faz com que o sangue flua mais rápido pela veia, o que aumenta seu calibre e resistência com o passar do tempo. Essa veia “fortalecida” é então capaz de suportar as punções repetidas com agulhas durante as sessões de diálise, sem se romper com facilidade (Kugler et al., 2023).

Entre todos os tipos de acesso (como cateteres ou próteses), a fístula é considerada a primeira escolha. Isso porque ela apresenta menores taxas de infecção, melhor fluxo sanguíneo e maior tempo de funcionamento. No entanto, exige cuidados diários essenciais, tanto por parte da equipe de saúde quanto pelo próprio paciente. A enfermagem tem papel fundamental nesse processo, oferecendo educação contínua, orientações práticas e reforço de bons hábitos (Zhang et al., 2021).

O sucesso da FAV depende, principalmente, de três fatores: técnica cirúrgica adequada, maturação adequada da veia e manutenção correta do acesso ao longo do tempo. A participação ativa do paciente é indispensável para evitar complicações como trombose, infecções, estenoses ou falhas no funcionamento (Zhang et al., 2021).

Principais Cuidados com a FAV que Devem Ser Ensinados ao Paciente

Quando um paciente inicia o tratamento por hemodiálise, entender como cuidar da Fístula Arteriovenosa (FAV) é fundamental para garantir sua durabilidade e evitar complicações. A equipe de enfermagem tem o papel de ensinar e reforçar esses cuidados de forma clara, prática e constante (National Kidney Foundation, 2020). A seguir, veja os principais cuidados com a FAV que precisam ser ensinados e reforçados com o paciente:

  • Higiene é essencial: O paciente deve ser orientado a lavar bem o braço da fístula com água corrente e sabão neutro antes de cada sessão de hemodiálise. Esse simples cuidado ajuda a prevenir infecções tanto no local da punção quanto sistêmicas. Uma boa dica é ensinar esse hábito durante o banho, demonstrando como esfregar suavemente o braço com sabão, sempre enxaguando bem (Dhingra & Young, 2019);
  • Observar sinais de alerta: É essencial que o paciente saiba identificar sinais que indicam possíveis problemas com a fístula, como: vermelhidão no local; aumento da temperatura (calor local); dor ou sensação de pressão; inchaço; saída de secreção; e sangramento fora do local de punção. Ao notar qualquer um desses sintomas, o paciente deve avisar imediatamente a equipe de enfermagem ou a unidade de diálise (Dhingra & Young, 2019);
  • Evitar traumas e pressões. O braço onde está a fístula não deve ser utilizado para carregar pesos, apoiar objetos, dormir em cima ou usar roupas apertadas, pulseiras, relógios ou elásticos. Qualquer compressão pode prejudicar o fluxo sanguíneo e causar danos graves. Um exemplo comum é o paciente carregar sacolas de mercado com esse braço — isso pode causar trombose e colocar a fístula em risco (Dhingra & Young, 2019);
  • Verificar o “frêmito” diariamente. O frêmito é uma vibração leve que pode ser sentida ao colocar a mão sobre a fístula. Ele indica que o sangue está circulando corretamente. O paciente deve ser ensinado a verificar esse “formigamento” todos os dias, especialmente ao acordar. A ausência do frêmito pode ser sinal de trombose ou falha da fístula e requer avaliação urgente (Woo et al., 2020);
  • Cuidado com sangramentos após a punção. Após cada sessão de diálise, é fundamental pressionar o local da punção com gaze limpa até parar de sangrar. O paciente deve evitar dobrar o braço ou esfregar o local. O curativo precisa ser mantido limpo e seco por algumas horas. Sangramentos prolongados devem ser comunicados imediatamente à equipe (Woo et al., 2020);
  • Evitar exames e procedimentos no braço da fístula. O braço com FAV nunca deve ser usado para injeções, coletas de sangue ou aferição de pressão arterial. O paciente precisa informar esse cuidado a qualquer profissional de saúde que for atendê-lo fora da unidade de diálise — como em hospitais ou prontos-socorros (Woo et al., 2020).

Todos esses cuidados fazem parte da rotina de segurança do paciente renal crônico. Quando bem orientado e acompanhado de perto pela equipe de enfermagem, o paciente se sente mais seguro e ativo no seu próprio tratamento. Além disso, estudos comprovam que a adesão aos cuidados com a FAV aumenta a sobrevida do acesso e reduz internações relacionadas a complicações evitáveis (National Kidney Foundation, 2020).

Como o Enfermeiro Pode Ensinar Esses Cuidados com Eficiência

O enfermeiro é peça-chave na educação do paciente renal. Um bom ensino envolve:

  • Repetição das informações em linguagem simples;
  • Uso de imagens ou modelos anatômicos;
  • Criação de folhetos explicativos;
  • Validação do que o paciente aprendeu, pedindo que ele repita os passos;
  • Envolvimento da família ou cuidador, quando possível.

Um exemplo é que, após uma aula educativa com cartazes e demonstrações práticas, pacientes de uma unidade do SUS em Minas Gerais reduziram em 50% os casos de infecção no local da fístula (Souza et al., 2023).

Benefícios para a Prática Clínica do Enfermeiro

Ao ensinar corretamente os cuidados com a FAV, o enfermeiro:

  • Previne complicações graves;
  • Reduz internações por infecções e tromboses;
  • Melhora a adesão do paciente ao tratamento;
  • Fortalece o vínculo terapêutico;
  • Valoriza seu papel educativo e protagonista dentro da equipe de saúde.

Esse conhecimento é essencial para qualquer profissional que atua com pacientes renais. E quando o enfermeiro se especializa em Nefrologia, ele se torna ainda mais preparado para oferecer uma assistência segura, humanizada e baseada em evidências (Bastos et al., 2022).

Conclusão

A fístula arteriovenosa é muito mais do que um acesso para a hemodiálise. Ela representa a linha de vida de milhares de pacientes renais — e o cuidado com ela começa na educação feita pela equipe de enfermagem. Ensinar com paciência, empatia e clareza é uma missão que salva acessos, evita complicações e melhora a qualidade de vida dos pacientes.

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Referências

Bastos, K. M. et al. (2022). A importância da enfermagem no ensino dos cuidados com a FAV em pacientes renais crônicos. Revista Brasileira de Enfermagem Nefrológica.

Dhingra, R. K., & Young, E. W. (2019). “Why do fistulas fail?” Kidney International, 95(2), 243–245.

Kugler, C. et al. (2023). “Patient education and adherence to arteriovenous fistula care: A key to successful hemodialysis.” Journal of Vascular Access, 24(2), 141–149.

National Kidney Foundation (2020). “KDOQI Clinical Practice Guideline for Vascular Access: 2019 Update.” American Journal of Kidney Diseases, 75(4 Suppl 2):S1-S164.

Souza, R. P. et al. (2023). Educação em saúde e prevenção de complicações em fístulas arteriovenosas: resultados em uma unidade pública de hemodiálise. Revista de Enfermagem em Nefrologia.

Woo, K. et al. (2020). “Risk factors for arteriovenous fistula failure and the role of preoperative evaluation.” Seminars in Nephrology, 40(6), 534–545.

Zhang, L. et al. (2021). “Effect of a structured education program on arteriovenous fistula complications in hemodialysis patients.” Renal Failure, 43(1), 650–658.

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