Introdução
Sentir náusea e até mesmo vomitar durante a hemodiálise é uma queixa muito comum entre os pacientes renais crônicos. Esses sintomas, embora muitas vezes considerados “esperados”, merecem atenção especial da equipe de enfermagem.
Por trás de um vômito, pode estar um desequilíbrio grave, como uma queda brusca da pressão, sobrecarga de líquidos ou até uma resposta emocional ao processo da diálise. Por isso, o enfermeiro tem papel essencial na identificação precoce, no alívio dos sintomas e na prevenção de complicações.
Neste artigo, vamos explicar de forma simples como lidar com náuseas e vômitos durante a hemodiálise, trazer dicas práticas e reforçar a importância da educação continuada e da especialização em nefrologia para oferecer um cuidado seguro e humanizado.
Causas Comuns de Náuseas e Vômitos Durante a Hemodiálise
Durante a sessão de hemodiálise, o corpo passa por várias mudanças rápidas: perda de líquidos, correção de eletrólitos, variações da pressão arterial. Tudo isso pode desencadear reações adversas como náuseas, tontura e vômito (Gomes et al., 2022).
Algumas causas frequentes incluem:
- Hipotensão intradialítica: quando a pressão do paciente cai demais durante a sessão.
- Taxa de ultrafiltração muito alta: retirada rápida de grandes volumes de líquido.
- Desequilíbrio de eletrólitos: alterações no potássio, sódio ou cálcio.
- Reações ao banho de diálise: como sensibilidade a certos componentes.
- Ansiedade e medo: fatores emocionais que se manifestam fisicamente.
Segundo o estudo de Gomes et al. (2022), cerca de 15 a 30% dos pacientes relatam náuseas durante a diálise, sendo a hipotensão a principal causa associada.
Como o Enfermeiro Deve Agir? Conduta de Enfermagem Passo a Passo
Durante a sessão de hemodiálise, é comum que intercorrências clínicas ocorram — e entre as mais frequentes estão os episódios de hipotensão seguidos de vômitos. Saber agir com rapidez e segurança nesses momentos é essencial para proteger a vida do paciente e garantir um atendimento humanizado. Por isso, o enfermeiro precisa estar atento aos primeiros sinais de instabilidade, adotar condutas seguras e registrar tudo de forma clara e objetiva. A seguir, você verá um passo a passo simples e eficaz sobre como agir nesses casos, baseado em boas práticas clínicas e evidências atualizadas da literatura científica (Silva & Santos, 2023).
O primeiro passo é reconhecer os sinais precoces. Muitos pacientes começam a apresentar suor frio, palidez, sensação de tontura, náuseas ou um mal-estar inespecífico. Esses sintomas são alertas de que algo não vai bem e precisam ser valorizados logo no início. Dica prática: observe atentamente o comportamento do paciente nos primeiros 30 minutos da diálise, pois é nesse período que os sintomas costumam surgir com mais frequência devido ao início da ultrafiltração (Silva & Santos, 2023).
Diante da queixa de enjoo ou vômitos, o enfermeiro deve imediatamente interromper a ultrafiltração — ou seja, parar a retirada de líquidos — e reposicionar o paciente em uma posição confortável. Recomenda-se elevar levemente a cabeça para reduzir o risco de broncoaspiração, principalmente se o paciente estiver prostrado ou com rebaixamento do nível de consciência (Basile et al., 2022).
Em seguida, é essencial avaliar os sinais vitais, com foco especial na pressão arterial e frequência cardíaca. A hipotensão é uma das principais causas de vômito em pacientes dialíticos e pode ocorrer por retirada excessiva de volume, jejum prolongado ou baixa resposta cardiovascular. Caso a pressão arterial esteja baixa, considere a administração de solução salina a 0,9%, conforme o protocolo da clínica, sempre respeitando as orientações médicas e os limites definidos para cada paciente (Basile et al., 2022).
Além dos cuidados clínicos, a higiene e o acolhimento emocional são fundamentais. O vômito é uma experiência desconfortável e muitas vezes constrangedora para o paciente. O enfermeiro deve realizar a higienização com delicadeza, manter a privacidade e conversar com o paciente de forma tranquila, explicando o que está acontecendo. Esse cuidado humanizado fortalece o vínculo de confiança e ajuda a reduzir a ansiedade (Moura et al., 2021).
Por fim, o registro adequado da intercorrência é obrigatório. Todos os dados devem ser anotados no prontuário: horário do evento, sinais clínicos observados, medidas adotadas, resposta do paciente e nome do profissional responsável. Além disso, a equipe médica deve ser comunicada imediatamente para avaliação e condutas adicionais, caso necessário. Seguir esse passo a passo garante não apenas a segurança do paciente, mas também a qualidade da assistência e o alinhamento com as boas práticas da enfermagem em nefrologia. Capacitar-se continuamente é o que transforma o enfermeiro comum em um profissional de referência (Moura et al., 2021).
Estratégias de Prevenção: Como Evitar Náuseas e Vômitos?
Durante a hemodiálise, náuseas e vômitos são intercorrências frequentes que afetam o bem-estar físico e emocional do paciente. Além do desconforto, esses sintomas podem indicar alterações clínicas importantes e até comprometer a continuidade da sessão. Felizmente, muitas dessas situações podem ser evitadas com ações simples, mas eficazes, que fazem parte da rotina do enfermeiro. A prevenção começa antes mesmo do paciente sentar na cadeira de diálise — e cada etapa do cuidado faz diferença (Nascimento & Marques, 2005).
Uma das estratégias mais importantes é avaliar com antecedência o volume que será retirado durante a sessão, evitando ultrapassar o chamado “peso seco” do paciente — ou seja, o peso que ele apresenta sem excesso de líquido. Quando esse limite é ultrapassado, o risco de queda de pressão, enjoo e vômitos aumenta significativamente. É papel da enfermagem avaliar cuidadosamente o balanço hídrico do paciente, conversando com ele sobre a ingestão de líquidos nos dias anteriores e ajustando a prescrição junto à equipe (Nascimento & Marques, 2005).
Outra medida eficaz é reduzir a taxa de ultrafiltração em pacientes que já apresentaram episódios de intolerância em sessões anteriores. A retirada de líquidos de forma rápida e intensa é um dos principais gatilhos para sintomas como tontura, sudorese e náuseas. Diminuir o ritmo de remoção pode ser a chave para uma diálise mais tranquila. A alimentação também influencia diretamente nesses sintomas. Sempre que possível, oriente o paciente a fazer uma refeição leve antes da diálise, e evitar alimentos gordurosos ou muito pesados nas duas horas que antecedem a sessão. Um estômago sobrecarregado pode piorar o desconforto durante a filtragem do sangue (Moraes & Mourão, 2024).
Além disso, a monitorização dos eletrólitos (como potássio e sódio) é fundamental. Alterações no equilíbrio desses minerais podem gerar efeitos colaterais, incluindo náuseas, vômitos, cãibras e arritmias. O enfermeiro deve estar atento aos exames laboratoriais recentes do paciente e comunicar qualquer anormalidade à equipe médica. Em pacientes que já têm histórico de vômitos, o uso preventivo de medicamentos antieméticos pode ser indicado. Nesse caso, os fármacos devem ser administrados conforme prescrição médica antes do início da sessão (Moraes & Mourão, 2024).
Estudos recentes mostram que ações preventivas de enfermagem podem reduzir em até 40% os episódios de vômito durante a hemodiálise, promovendo mais conforto, segurança e adesão ao tratamento (Basile et al., 2022). Isso mostra como o cuidado atento e planejado da equipe pode mudar completamente a experiência do paciente renal.
Benefícios para a Prática Clínica
Cuidar bem de um paciente vai além dos procedimentos técnicos. Envolve atenção, escuta ativa e ações práticas que fazem a diferença. Quando o enfermeiro domina o manejo de sintomas como náuseas e vômitos, a rotina da clínica de hemodiálise muda — e o impacto positivo se reflete tanto no paciente quanto na equipe. Um dos principais benefícios é a melhoria na relação com o paciente, que passa a se sentir mais seguro e acolhido. Quando percebe que o profissional está atento aos seus sinais, o paciente tende a confiar mais, relatar seus sintomas com liberdade e aderir melhor às orientações (Monteiro et al., 2023).
Além disso, o controle adequado dos sintomas evita complicações graves, como broncoaspiração, desidratação, quedas de pressão e interrupções da diálise. Isso garante uma sessão mais tranquila e eficaz, com menor risco de eventos adversos. A atuação do enfermeiro nesses momentos também demonstra competência, preparo e proatividade, qualidades que valorizam o profissional diante da equipe e da gestão da clínica. Enfermeiros que se antecipam às intercorrências são vistos como líderes técnicos e referência no cuidado ao paciente renal (Cerqueira et al., 2022).
Outro ponto importante é o aumento da adesão ao tratamento, um dos fatores mais decisivos para o sucesso da terapia dialítica. Pacientes que se sentem bem durante a diálise tendem a faltar menos, abandonar menos o tratamento e seguir as recomendações com mais disciplina.
Pequenas atitudes, como reduzir levemente a ultrafiltração ou oferecer um saquinho de gelo para aliviar a náusea, fazem toda a diferença. Esse olhar atento, cuidadoso e humanizado é uma das marcas da enfermagem de excelência — e é isso que transforma um atendimento comum em um cuidado inesquecível (Cerqueira et al., 2022).
Conclusão
Saber como agir diante de um episódio de náusea ou vômito durante a hemodiálise é parte essencial da prática de enfermagem em nefrologia. Mais do que seguir protocolos, é preciso ter sensibilidade, agilidade e preparo.
E é justamente aí que entra a educação continuada: quanto mais você estuda, mais seguro se torna para cuidar com excelência. A especialização em Nefrologia amplia sua visão, fortalece sua atuação e abre portas para novas oportunidades na profissão.
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Referências
Basile, C. et al. (2022). Management of Intradialytic Hypotension: Current Perspectives. International Journal of Nephrology and Renovascular Disease, 15, 87–98.
Cerqueira, T. M., Lopes Júnior, H. M. P., & Silva, L. G. (2022). Cuidados de enfermagem ao paciente em hemodiálise, visando baixo índice de intercorrência. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, 10(9), 15718.
Gomes, A. P., Silva, C. M. T., & Carvalho, S. D. (2022). Náusea e vômito durante a hemodiálise: causas e condutas. Revista Brasileira de Enfermagem, 75(2), e20210431.
Monteiro, N. C. A., et al. (2023). Cuidados de enfermagem ao paciente com insuficiência renal em tratamento de hemodiálise. Revista Enfermagem Atual In Derme, 97(4), e023177.
Moraes, A. P. M., & Mourão, C. M. L. (2024). Cuidados de Enfermagem com pacientes hemodialíticos: revisão narrativa de literatura. Revista da Faculdade Paulo Picanço, 4(3), 115-123.
Moura, R. M. et al. (2021). Cuidados de Enfermagem frente às intercorrências clínicas na hemodiálise: revisão integrativa. Revista Brasileira de Enfermagem, 74(1), e20200815.
Nascimento, C. D., & Marques, I. R. (2005). Intervenções de enfermagem nas complicações mais frequentes durante a sessão de hemodiálise: revisão da literatura. Revista Brasileira de Enfermagem, 58(6), 617-622.
Silva, L. F., & Santos, M. A. (2023). Atuação da enfermagem frente às intercorrências em sessões de hemodiálise. Revista Saúde e Desenvolvimento, 27(4), 88-95.