Introdução
Imagine a seguinte situação: um paciente chega à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com pressão arterial muito baixa, quase não urinou nas últimas 24 horas e apresenta sinais de confusão mental. Esses sintomas podem indicar o início de um quadro de Doença Renal Aguda (DRA), uma condição grave que requer atenção imediata da equipe de saúde.
A DRA, anteriormente conhecida como insuficiência renal aguda, é comum em ambientes críticos como UTIs e unidades de emergência. Ela se caracteriza pela perda rápida da função dos rins, que são responsáveis por filtrar o sangue e eliminar substâncias tóxicas do organismo. Quando os rins falham, essas toxinas se acumulam, podendo levar a complicações sérias e até à morte se não houver intervenção rápida.
Para os profissionais de enfermagem, é essencial saber identificar os primeiros sinais da DRA e agir prontamente. Reconhecer alterações na diurese, pressão arterial e estado mental do paciente pode ser decisivo para iniciar o tratamento adequado e salvar vidas.
Neste artigo, vamos explicar o que é a Doença Renal Aguda, como o enfermeiro pode reconhecer os sinais de alerta, quais são os cuidados prioritários nesses casos e como a especialização em Nefrologia pode transformar a prática profissional, trazendo mais segurança e qualidade ao cuidado prestado.
O que é Doença Renal Aguda (DRA)?
A Doença Renal Aguda (DRA), também conhecida como Injúria Renal Aguda (IRA), é uma condição caracterizada pela perda súbita da função dos rins. Isso significa que, em um curto período de tempo — horas ou dias — os rins deixam de filtrar adequadamente o sangue, levando ao acúmulo de substâncias tóxicas no corpo, como ureia e creatinina (Alderete et al., 2024).
As causas da DRA são diversas e podem ser classificadas em três categorias principais:
- Pré-renais: resultam da diminuição do fluxo sanguíneo para os rins, como ocorre em casos de desidratação severa, hemorragias ou choque circulatório;
- Renais: envolvem danos diretos aos tecidos dos rins, podendo ser causados por infecções, inflamações ou uso de medicamentos tóxicos para os rins;
- Pós-renais: ocorrem devido a obstruções no trato urinário, como cálculos renais ou aumento da próstata, que impedem a eliminação da urina.
Os sintomas da DRA podem incluir diminuição ou ausência de urina (oligúria ou anúria), inchaço nas pernas e tornozelos, fadiga, náuseas, confusão mental e, em casos graves, convulsões ou coma. O diagnóstico precoce é fundamental, pois a DRA é potencialmente reversível se tratada adequadamente. O tratamento envolve a identificação e correção da causa subjacente, controle dos sintomas e, em alguns casos, a necessidade de diálise para substituir temporariamente a função dos rins (Sousa et al., 2024).
A atuação da equipe de enfermagem é crucial nesse processo, desde o monitoramento dos sinais vitais e da diurese até a administração correta dos medicamentos e suporte ao paciente e familiares.
Sinais de alerta: o que o enfermeiro precisa observar
A Doença Renal Aguda (DRA) é uma condição que se desenvolve rapidamente, e os sinais clínicos podem surgir de forma súbita. O enfermeiro, muitas vezes, é o primeiro profissional a identificar essas alterações, sendo essencial estar atento a diversos indicadores. Um dos sinais mais precoces é a diminuição do volume urinário. Produzir menos de 0,5 ml de urina por quilo de peso corporal por hora, por mais de seis horas, é um critério importante para suspeitar de DRA. Além disso, o acúmulo de líquidos pode causar inchaço nas pernas, tornozelos, rosto ou em todo o corpo (Barbosa et al., 2022).
Alterações no estado mental, como confusão, sonolência ou agitação sem causa aparente, também podem indicar comprometimento renal. A pressão arterial baixa ou uma queda repentina da pressão são sinais de alerta, pois podem reduzir a perfusão renal e agravar a situação. Sintomas como náuseas, vômitos e falta de apetite são comuns em pacientes com DRA. Além disso, exames laboratoriais podem revelar aumentos nos níveis de creatinina e ureia, indicando disfunção renal (Barbosa et al., 2022).
Estudos mostram que cerca de 25% dos pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) desenvolvem DRA, sendo que a maioria dos casos pode ser evitada com intervenções precoces. Portanto, o monitoramento contínuo e a identificação rápida dos sinais de alerta são fundamentais para prevenir complicações e melhorar o prognóstico do paciente (Boschini, 2024).
Atuação da enfermagem em situações críticas
O enfermeiro desempenha um papel crucial na identificação e no manejo da Doença Renal Aguda (DRA), especialmente em ambientes críticos como UTIs. A atuação proativa pode prevenir a progressão da condição e melhorar os desfechos clínicos.
- Monitoramento rigoroso da diurese: Utilizar sistemas fechados de coleta urinária permite medir com precisão o volume urinário. É essencial registrar a diurese de hora em hora em pacientes graves. Uma redução na produção de urina pode ser um dos primeiros sinais de DRA, e deve ser comunicada imediatamente à equipe médica (Ferrari et al., 2023);
- Controle da pressão arterial: A hipotensão pode agravar a DRA. O enfermeiro deve monitorar continuamente a pressão arterial, administrar fluidos e medicamentos conforme prescrição e avaliar sinais de hipoperfusão, como extremidades frias, pulso fraco e palidez (Ferrari et al., 2023).
- Atenção aos medicamentos nefrotóxicos: Muitos medicamentos utilizados em UTIs, como certos antibióticos e anti-inflamatórios, podem ser tóxicos para os rins. O enfermeiro deve revisar as prescrições, estar atento às doses e colaborar com a equipe médica para ajustar os medicamentos conforme a função renal do paciente (Mendu et al., 2020);
- Cuidados com o acesso venoso central: Em casos graves, pode ser necessário o uso de cateteres para diálise de urgência. O enfermeiro é responsável por manter a higiene, realizar curativos adequados e monitorar o cateter para prevenir infecções que podem agravar a condição renal (Mendu et al., 2020);
- Apoio emocional ao paciente e à família: O diagnóstico de DRA em um ambiente de UTI pode ser assustador. A enfermagem deve fornecer informações claras e compreensíveis, tranquilizar a família e destacar que, com tratamento adequado, há chances de reversão do quadro (Mendu et al., 2020).
A atuação eficiente e empática da enfermagem é fundamental para o manejo adequado da DRA, contribuindo significativamente para a recuperação do paciente.
Benefícios para a prática clínica
A Doença Renal Aguda (DRA) é uma condição clínica comum, especialmente em unidades de terapia intensiva, e pode surgir de forma repentina, levando à disfunção grave dos rins em poucos dias. Para o enfermeiro que atua na linha de frente, conhecer profundamente os cuidados intensivos voltados à DRA é essencial para garantir um atendimento seguro, ágil e centrado no paciente (Kellum et al., 2018).
Dominar os cuidados na DRA permite ao enfermeiro reconhecer os sinais de alerta logo nas primeiras horas — como redução da diurese, alterações hemodinâmicas e mudanças no estado de consciência. Essa identificação precoce evita que o quadro evolua para uma insuficiência renal grave, com necessidade de diálise de urgência. Além disso, o enfermeiro passa a atuar de forma mais ativa nas discussões clínicas, inclusive colaborando nas decisões sobre o momento ideal para iniciar a terapia dialítica (Kellum et al., 2018).
Outro benefício direto é a redução de complicações associadas à DRA, como infecções, sepse e distúrbios hidroeletrolíticos. O acompanhamento próximo da diurese e o registro criterioso em planilhas à beira-leito, compartilhadas com toda a equipe, agilizam o diagnóstico precoce e a tomada de decisão clínica. A literatura mostra que esse tipo de monitoramento integrado pode reduzir em até 30% a mortalidade em pacientes críticos com lesão renal aguda (Hoste et al., 2018).
Além do impacto técnico, o conhecimento sobre a DRA também eleva o padrão de cuidado. O enfermeiro que entende a gravidade do quadro renal é mais empático, oferece acolhimento ao paciente e à família, e fortalece a comunicação com o time de saúde. Isso resulta em uma assistência mais humanizada, centrada nas necessidades reais do paciente e em sua recuperação. Investir em conhecimento sobre a Doença Renal Aguda é, portanto, uma forma de melhorar a prática clínica, evitar complicações graves e salvar vidas todos os dias (Hoste et al., 2018).
Conclusão
A Doença Renal Aguda é uma urgência que bate à porta de qualquer hospital. É silenciosa, rápida e perigosa. O enfermeiro preparado para identificá-la e agir com confiança muda o rumo do paciente — muitas vezes salvando a função renal e até a vida dele.
E é exatamente por isso que a especialização em Nefrologia é tão necessária para quem atua em UTIs, prontos-socorros ou enfermarias clínicas. Ela vai muito além da teoria: é a ponte entre o conhecimento técnico e a ação segura na beira do leito. Estar capacitado é o que transforma um atendimento comum em um cuidado de excelência.
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Referências
Alderete, G., Santos, V. S. dos, Ferreira, H., Zilly, A., & Silva, R. M. M. da. (2024). Lesão renal aguda em unidade de terapia intensiva: causas, tratamento e desfecho. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, 28(3), 797–812.
Barbosa, C. S., Oliveira, T. S. de, Vasconcelos, A. C. S. de, Oliveira, A. D. de, Abreu, C. M. R. de, Silva, T. A. da, Borba, T. da S., & Silva, V. M. de O. (2022). O papel do enfermeiro em pacientes admitidos em uma unidade de terapia intensiva diagnosticados com injúria renal aguda: uma revisão integrativa. Revista Eletrônica Acervo Saúde, 15(12), e11420.
Boschini, L. (2024). Terapia de substituição renal contínua em pacientes críticos: benefícios, desafios e perspectivas no manejo da insuficiência renal aguda. Journal of Social Issues and Health Sciences (JSIHS), 1(7).
Ferrari, C. R., Lopes, C. E., & Belangero, V. M. S. (2023). Interação nefro-intensivista pediátrica na lesão renal aguda. Brazilian Journal of Nephrology, 46(1), 70–78.
Kellum JA, Lameire N, Aspelin P, et al. Kidney disease: improving global outcomes (KDIGO) clinical practice guideline for acute kidney injury. Kidney Int Suppl. 2018;2(1):1-138.
Hoste EA, Bagshaw SM, Bellomo R, et al. Epidemiology of acute kidney injury in critically ill patients: the multinational AKI-EPI study. Intensive Care Med. 2018;41(8):1411–1423.
Mendu ML, Graham DA, Leaf DE, et al. A practical approach to AKI diagnosis and management. Am J Kidney Dis. 2020;76(6):748–758.
Sousa, V. de O., Farias, M. S., Castro, J. B. R. de, Vasconcelos, C. M., Mendonça, G. M. M., & Sousa, J. V. T. de. (2024). Intervenções de enfermagem para prevenção de lesão renal aguda em pacientes hospitalizados em unidade de terapia intensiva com base nos fatores de risco. Revista Eletrônica Acervo Saúde, 24(10), e15462.