Introdução
Você já se deparou com um paciente em hemodiálise cujo cateter simplesmente “não funcionava”? Essa situação é mais comum do que parece nas unidades de diálise e pode gerar muita preocupação. A obstrução do cateter é um problema frequente que pode colocar a segurança do paciente em risco, além de atrasar ou até impedir o tratamento.
Saber o que fazer diante dessa intercorrência é essencial para o enfermeiro que atua (ou deseja atuar) na área de Nefrologia. É uma daquelas situações que exigem conhecimento técnico, raciocínio rápido e segurança na tomada de decisão.
Neste artigo, vamos falar de forma simples e objetiva sobre o que causa a obstrução do cateter de hemodiálise, quais são os sinais de alerta e, principalmente, quais são as condutas de enfermagem mais seguras e eficazes para lidar com esse problema. Também vamos mostrar como a especialização pode transformar a prática profissional.
O que é a obstrução do cateter de hemodiálise?
A obstrução do cateter de hemodiálise é uma complicação relativamente comum e ocorre quando o fluxo de sangue pelo cateter está parcial ou totalmente bloqueado, o que impede o funcionamento adequado da máquina de hemodiálise e compromete o tratamento do paciente. Esse bloqueio pode surgir por diferentes razões e exige atenção da equipe de enfermagem para ser rapidamente identificado e tratado (Weijmer et al., 2022).
Um dos motivos mais frequentes é a formação de coágulos sanguíneos (trombos) dentro do cateter, que impedem a passagem do sangue. Além disso, o cateter pode apresentar dobras ou sofrer compressões ao longo do trajeto da linha, o que também reduz o fluxo. Outro fator importante é o acúmulo de fibrina, resíduos de medicamentos ou soluções no lúmen do cateter, o que prejudica sua permeabilidade. Um problema ainda mais grave é a formação de biofilme — uma camada composta por bactérias e secreções que se adere às paredes internas do cateter, dificultando o fluxo e aumentando o risco de infecções (Mermel et al., 2022).
A manipulação inadequada do cateter, o uso de técnicas não assépticas e a falta de cuidados adequados durante a manutenção e o curativo também são fatores que contribuem para a obstrução. Essa condição pode afetar a eficiência da diálise, prolongar o tempo de sessão e comprometer a segurança do paciente. Por isso, a prevenção e a identificação precoce são fundamentais para garantir um cuidado seguro e eficaz (Taylor & Bradley, 2021).
Como identificar que o cateter está obstruído?
A identificação precoce de uma obstrução no cateter de hemodiálise é essencial para garantir que o tratamento do paciente não seja interrompido ou prejudicado. O enfermeiro desempenha um papel central nesse processo, observando sinais clínicos e técnicos que indicam a presença de um bloqueio. Um dos primeiros sinais de alerta é a dificuldade no retorno do sangue pela linha arterial do cateter. Quando o sangue não retorna de forma adequada, ou retorna com dificuldade, isso pode sugerir que há algo impedindo o fluxo normal (Beathard et al., 2023).
Outro indício comum é o disparo frequente do alarme de pressão negativa na máquina de hemodiálise, indicando resistência ao fluxo. Além disso, quando há necessidade constante de inverter as linhas — ou seja, utilizar a linha venosa como arterial — para tentar manter o tratamento, essa é uma forte evidência de disfunção do cateter. O paciente também pode relatar desconforto, dor ou sensação de pressão durante a punção ou durante a conexão das linhas, o que deve ser considerado um sinal importante (Oliveira et al., 2021).
Esses achados não podem ser ignorados, pois o atraso na diálise por obstrução do cateter pode impactar diretamente a estabilidade clínica do paciente, principalmente em casos de sobrecarga hídrica, hipercalemia ou outras intercorrências dialíticas. A avaliação deve ser feita com rapidez e assertividade, visando sempre a segurança e a continuidade do cuidado (Oliveira et al., 2021).
Condutas de Enfermagem: o que fazer na prática?
Saber exatamente como agir diante de uma obstrução de cateter é essencial para garantir a continuidade da sessão de hemodiálise e prevenir complicações graves, como infecções, trombose e perda do acesso vascular. A atuação do enfermeiro deve ser proativa, atenta e sempre baseada em boas práticas. Antes de iniciar cada sessão, é fundamental realizar a checagem rigorosa do fluxo das linhas arterial e venosa, garantindo que o sangue esteja circulando normalmente pelo cateter. Caso haja qualquer sinal de resistência, a linha não deve ser forçada — e é dever do enfermeiro orientar toda a equipe técnica a seguir esse princípio básico (Gorski et al., 2021).
O uso incorreto das linhas pode agravar a obstrução e até causar danos estruturais ao cateter. Além disso, o enfermeiro deve estar sempre alinhado aos protocolos assistenciais da unidade e agir dentro do respaldo ético e legal da profissão. Participar de treinamentos internos, atualizações científicas e grupos de estudo clínico ajuda a manter a equipe preparada para lidar com esse tipo de intercorrência de forma segura, rápida e eficaz. A padronização de condutas, aliada ao conhecimento técnico, fortalece a segurança do paciente e otimiza a qualidade do cuidado prestado (Gallieni et al., 2022).
O que dizem as evidências científicas?
As evidências científicas mostram que a obstrução do cateter é uma das principais causas de disfunção e perda de acesso vascular em pacientes em hemodiálise. De acordo com as diretrizes do Kidney Disease Outcomes Quality Initiative, o uso adequado de soluções anticoagulantes, como o citrato ou heparina, combinado com cuidados rigorosos com o curativo, pode reduzir significativamente a incidência de obstruções (Oliveira et al., 2022).
Mais de 40% dos episódios de obstrução poderiam ser evitados com medidas simples, como a correta manipulação do cateter, a manutenção da técnica asséptica e a capacitação contínua da equipe de enfermagem. Isso mostra que a conduta profissional tem impacto direto na preservação do acesso e na segurança do paciente. Programas de educação continuada e protocolos institucionais atualizados são fundamentais para garantir boas práticas na assistência ao paciente dialítico (Oliveira et al., 2022).
Benefícios para a prática clínica
Dominar as condutas de enfermagem frente à obstrução do cateter traz benefícios diretos e mensuráveis para a prática clínica. Primeiramente, evita-se o atraso da sessão de diálise, o que é essencial para a estabilidade hemodinâmica do paciente. Também se previnem complicações como infecções sistêmicas, trombose do acesso e necessidade de troca precoce do cateter, o que eleva custos e riscos. A checagem do fluxo antes do início da sessão deve ser uma rotina rigorosa (Sousa et al., 2022).
Quando identificada qualquer resistência, o ideal é suspender a manipulação e comunicar a equipe médica — jamais forçar as linhas. Essa medida simples pode evitar danos ao dispositivo e agravos ao paciente. Manter-se atento aos protocolos institucionais e agir sempre com respaldo técnico e ético reforça a segurança da assistência. A atualização constante por meio de treinamentos internos e estudos clínicos fortalece o conhecimento da equipe e promove um cuidado mais resolutivo, humanizado e baseado em evidências (Sousa et al., 2022).
Conclusão
A obstrução do cateter é um desafio real e muito frequente nas rotinas das unidades de diálise. Mas com conhecimento técnico, atenção aos detalhes e trabalho em equipe, o enfermeiro tem poder de agir de forma decisiva para garantir a continuidade da sessão e a segurança do paciente. Esses momentos mostram, na prática, o quanto uma especialização em Nefrologia faz diferença na formação e na atuação profissional. Quando o enfermeiro está preparado para lidar com intercorrências, interpretar sinais precocemente e tomar decisões seguras, ele se torna um pilar dentro da equipe multidisciplinar e um verdadeiro diferencial na vida do paciente renal.
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Referências
Beathard, G. A., et al. (2023). Detection and management of dysfunctional hemodialysis catheters: A clinical review. Seminars in Dialysis, 36(2), 121-130.
Gallieni, M., et al. (2022). Vascular access in hemodialysis: clinical practice recommendations. Nephrology Dialysis Transplantation, 37(3), 389-401.
Gorski, L. A., et al. (2021). Infusion therapy standards of practice. Journal of Infusion Nursing, 44(1S), S1-S224.
Mermel, L. A., et al. (2022). Clinical practice guidelines for the diagnosis and management of intravascular catheter-related infection. Clinical Infectious Diseases, 74(3), e191–e222.
Oliveira, R. A. F., et al. (2022). Condutas preventivas da enfermagem na obstrução de cateter de hemodiálise: uma revisão integrativa. Revista Brasileira de Enfermagem, 75(4), e20220045.
Oliveira, R. B., et al. (2021). Sinais clínicos de disfunção de cateter de hemodiálise: uma revisão para a enfermagem nefrológica. Revista Brasileira de Enfermagem, 74(3), e20200321.
Sousa, M. L., et al. (2022). Enfermagem em hemodiálise: estratégias para reduzir a disfunção do cateter. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, 12, e4161.
Taylor, J. E., & Bradley, J. A. (2021). Maintenance of hemodialysis catheters: strategies to prevent dysfunction. Kidney International Reports, 6(4), 900-910.
Weijmer, M. C., et al. (2022). Guidelines for the prevention and management of catheter-related complications in hemodialysis. Journal of Vascular Access, 23(1), 45-56.