Introdução
Quando falamos em doença renal crônica (DRC), falamos de um conjunto de desafios que afetam diretamente a qualidade de vida do paciente. Um deles, bastante comum, é a anemia.
A boa notícia? Existe um tratamento eficaz: a eritropoetina, um hormônio que ajuda o organismo a produzir glóbulos vermelhos, melhorando a oxigenação do corpo e o bem-estar do paciente.
Neste processo, o papel do enfermeiro é fundamental. É ele quem administra a medicação, orienta o paciente e acompanha os efeitos do tratamento. Este artigo foi criado para você, enfermeiro ou profissional da saúde, que quer entender melhor como a eritropoetina funciona, como deve ser aplicada e monitorada, e por que a especialização em nefrologia pode transformar sua prática e sua carreira.
O que é a Eritropoetina e por que ela é importante para o paciente renal?
A eritropoetina (ou EPO) é um hormônio produzido naturalmente pelos rins. Ela tem a função de estimular a medula óssea a produzir glóbulos vermelhos, que são responsáveis por transportar oxigênio para todo o corpo. Quando os rins estão doentes, como na DRC, a produção da EPO diminui. Isso causa anemia renal, uma condição comum que deixa o paciente cansado, pálido, com falta de ar e até dificuldade para se concentrar.
Segundo dados do Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), mais de 60% dos pacientes em hemodiálise apresentam algum grau de anemia. É por isso que a administração da eritropoetina sintética (conhecida como agente estimulador da eritropoiese – AEE) é essencial nesses casos (Ministério da Saúde, 2020).
Papel do Enfermeiro na Administração da Eritropoetina
A administração da eritropoetina (EPO) é uma tarefa essencial da equipe de enfermagem no cuidado de pacientes com doença renal crônica (DRC). A EPO pode ser aplicada por via subcutânea (sob a pele) ou intravenosa (na veia), dependendo das necessidades do paciente e das orientações médicas. É fundamental que o enfermeiro verifique sempre a prescrição médica, assegurando a dose e a via corretas de administração. Além disso, é importante observar o local da aplicação, evitando áreas com inflamação, hematomas ou cicatrizes (Santos et al., 2024).
O enfermeiro deve estar atento a possíveis reações adversas, como dor no local da aplicação, aumento da pressão arterial ou sintomas de alergia. A medicação deve ser armazenada corretamente, geralmente em refrigeração, para manter sua eficácia. Além disso, é papel do enfermeiro educar o paciente sobre a importância do tratamento contínuo, explicando de forma clara e acessível como a EPO ajuda o corpo a produzir mais glóbulos vermelhos, combatendo a anemia (Santos et al., 2024).
Estudos recentes destacam que enfermeiros bem treinados na administração e acompanhamento da EPO contribuem significativamente para o controle da anemia em pacientes renais, reduzindo intercorrências e melhorando a qualidade de vida desses pacientes (Pribbernow et al., 2020).
Monitoramento: não basta aplicar, é preciso acompanhar
Aplicar a eritropoetina é apenas uma parte do processo de tratamento da anemia em pacientes com DRC. O monitoramento contínuo dos efeitos e possíveis reações é essencial para garantir a segurança e a eficácia do tratamento. O enfermeiro deve acompanhar regularmente os níveis de hemoglobina e hematócrito, que são indicadores importantes da melhora da anemia. Também é crucial monitorar a pressão arterial, pois a EPO pode causar aumento da pressão em alguns pacientes (Pribbernow et al., 2020).
Além disso, é necessário observar sinais de sobrecarga ou deficiência de ferro, já que a EPO só é eficaz se o paciente tiver níveis adequados de ferro no organismo. Avaliar a resposta clínica do paciente, como aumento da disposição e melhora dos sintomas, também faz parte do acompanhamento. As diretrizes da KDIGO (2021) recomendam manter os níveis de hemoglobina entre 10 e 11,5 g/dL em pacientes com DRC, com monitoramento frequente da resposta ao tratamento (Ribeiro et al., 2023).
Dicas práticas para o enfermeiro
Estabelecer um vínculo de confiança com o paciente é fundamental. A adesão ao tratamento tende a melhorar quando o paciente se sente acolhido e bem orientado. Utilize uma linguagem simples e clara ao explicar o tratamento. Por exemplo, dizer “essa medicação vai ajudar seu corpo a fabricar sangue” pode ser mais compreensível do que termos técnicos como “eritropoiese” (Barbieri, 2024).
Oriente o paciente sobre sinais de alerta, como dores de cabeça intensas, tonturas ou inchaço, que podem indicar aumento da pressão arterial. Reforce a importância dos exames de rotina, pois o acompanhamento laboratorial é indispensável para avaliar a eficácia do tratamento e ajustar as doses conforme necessário. Estudos indicam que a educação do paciente e o acompanhamento próximo por parte da equipe de enfermagem são fatores-chave para o sucesso do tratamento da anemia em pacientes com DRC (Barbieri, 2024).
Por que se especializar em Nefrologia faz toda a diferença?
A administração da eritropoetina é apenas um exemplo de como o enfermeiro pode impactar positivamente a vida de pacientes renais. Para desempenhar esse papel com excelência, é essencial estar bem-preparado (Cui et al., 2024).
Ao se especializar em Nefrologia, o profissional aprofunda seus conhecimentos sobre terapias renais e tratamentos medicamentosos, atua com mais segurança em procedimentos delicados e complexos, melhora sua prática clínica e amplia suas oportunidades de crescimento na carreira. Além disso, ganha mais confiança para orientar e educar o paciente renal, tornando-se uma referência na equipe e contribuindo diretamente para a qualidade do cuidado prestado (Cui et al., 2024).
Conclusão
A eritropoetina é uma aliada poderosa no tratamento da anemia em pacientes renais, mas seu sucesso depende diretamente do papel do enfermeiro. Desde a aplicação correta até o acompanhamento dos efeitos, tudo exige um profissional capacitado, atento e humano. Investir na sua educação continuada é também investir na qualidade de vida dos seus pacientes.
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Referências
Barbieri, M., et al. (2024). Efficacy of erythropoietin as a neuroprotective agent in CKD-associated cognitive dysfunction: A literature systematic review. Pharmacological Research, 203, 107146.
Cui, L., et al. (2024). Correlation between ultrafiltration rate and hemoglobin level and erythropoietin response in hemodialysis patients. Renal Failure, 46(1), 1–7.
Ministério da Saúde. (2020). Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Anemia na Doença Renal Crônica.
Pribbernow, S. C. M., de Souza, M. V., Prompt, C. A., & Picon, P. D. (2020). Anemia e uso de eritropoetina nos pacientes em hemodiálise no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Clinical and Biomedical Research, 26(3), 1–7.
Ribeiro, J. C., Rodrigues, C. M., & Sousa Neto, A. L. (2023). Uso de eritropoetina recombinante humana exógena no tratamento da anemia em renais crônicos. Revista Ciência e Saúde On-line, 13(2), 1–9.
Santos, S. M., Lima, M. M., & Souza, G. R. B. (2024). O uso da eritropoetina e sua ação como agente neuroprotetor na disfunção cognitiva comum ao paciente renal crônico: uma revisão integrativa. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, 7(1), 1–10.