Como Garantir a Segurança do Acesso Vascular em Crianças em Hemodiálise?

Introdução

Cuidar de uma criança em hemodiálise é um grande desafio – tanto emocional quanto técnico. E quando falamos do acesso vascular, estamos falando do principal caminho entre a máquina de hemodiálise e a vida do paciente. Qualquer erro pode trazer sérias consequências. Por isso, garantir a segurança do acesso vascular em crianças é uma responsabilidade crítica do enfermeiro.

Compreender cada etapa desse cuidado pode salvar vidas e tornar o tratamento mais seguro, mais eficiente e menos doloroso para os pequenos pacientes. Este artigo foi escrito para ajudar enfermeiros e profissionais de saúde a entender, de forma simples, como atuar com segurança e confiança nesse processo tão delicado. Também mostra como a especialização em Nefrologia pode transformar sua atuação.

O que é o Acesso Vascular na Hemodiálise Pediátrica?

Para que a hemodiálise funcione corretamente em crianças, é necessário criar um caminho por onde o sangue possa sair do corpo, ser filtrado pela máquina e retornar limpo. Esse caminho é chamado de acesso vascular. Ele é fundamental para garantir que a terapia ocorra de forma segura, eficaz e com o menor risco possível para o paciente pediátrico (Warady et al., 2022).

Existem dois tipos principais de acesso vascular utilizados em crianças: o cateter venoso central (CVC) e a fístula arteriovenosa (FAV). O cateter é o mais utilizado, especialmente em crianças menores de 15 quilos, porque sua implantação é mais rápida, não exige maturação prévia e permite o início quase imediato da diálise. Já a fístula arteriovenosa, embora ofereça maior segurança a longo prazo, demanda uma cirurgia para ser criada e precisa de tempo para amadurecer antes de ser utilizada, o que nem sempre é viável em crianças pequenas ou com condições clínicas instáveis (Warady et al., 2022).

A escolha entre um cateter e uma fístula depende de vários fatores, como a idade da criança, seu peso, o estado clínico geral e a previsão de tempo em terapia dialítica. Crianças que iniciarão a hemodiálise por um curto período ou que aguardam transplante em breve, por exemplo, geralmente recebem um CVC. Já para aquelas que precisam de tratamento por mais tempo, a FAV pode ser considerada, desde que as condições anatômicas e clínicas permitam.

De acordo com as diretrizes da Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO, 2023), o uso de cateteres em pediatria deve ser feito com extremo cuidado e, sempre que possível, por tempo limitado, devido ao risco elevado de complicações como infecções, tromboses e problemas de fluxo sanguíneo. Por isso, o monitoramento contínuo e o cuidado da equipe de enfermagem são essenciais para garantir a segurança do acesso vascular e a saúde da criança em hemodiálise.

Principais Riscos Envolvidos

Embora o acesso vascular seja indispensável para a realização da hemodiálise em crianças, ele também representa um ponto de vulnerabilidade. Principalmente quando o acesso é feito por cateter venoso central, o risco de complicações aumenta significativamente, exigindo atenção redobrada da equipe de saúde, da família e de todos os profissionais envolvidos no cuidado do paciente (McCulloch & Valentini, 2020).

Entre os principais riscos associados ao uso do cateter estão as infecções, que podem ser locais (no ponto de inserção) ou sistêmicas, evoluindo até para quadros graves de sepse. Em crianças, isso é ainda mais delicado, já que o sistema imunológico ainda está em desenvolvimento, tornando-as mais suscetíveis a infecções severas. Além disso, há o risco de obstrução do cateter, que pode ocorrer por acúmulo de coágulos ou precipitados no interior do dispositivo, prejudicando o fluxo sanguíneo durante a diálise (McCulloch & Valentini, 2020).

Outra complicação comum é a trombose, que pode comprometer veias importantes e limitar as opções de acesso futuro. Desconexões acidentais, especialmente em pacientes mais ativos ou agitados, também representam um risco relevante, podendo levar à perda de sangue e necessidade de intervenções emergenciais. Sangramentos no local da inserção ou durante o uso também são preocupações constantes (McCulloch & Valentini, 2020).

Um estudo publicado na revista Pediatric Nephrology (NAPRTCS, 2021) apontou que aproximadamente 50% das internações relacionadas ao acesso vascular em crianças em hemodiálise são causadas por infecções. Esse dado reforça a importância de investir em cuidados rigorosos, protocolos de prevenção e educação continuada dos profissionais de enfermagem, que estão na linha de frente desses atendimentos.

A redução desses riscos passa diretamente pela capacitação da equipe, pela escolha adequada do tipo de acesso e pelo monitoramento contínuo das condições clínicas da criança. O conhecimento técnico, aliado ao cuidado humanizado, é a chave para oferecer segurança, confiança e qualidade de vida às crianças que enfrentam a jornada da hemodiálise (NAPRTCS, 2021).

Cuidados Essenciais de Enfermagem

O cuidado com o acesso vascular em crianças em hemodiálise exige técnica, atenção aos detalhes e, acima de tudo, responsabilidade. O primeiro passo é a higienização rigorosa das mãos antes de qualquer contato com o cateter. O uso de luvas estéreis e a antissepsia com clorexidina alcoólica a 2% são essenciais para evitar contaminações. Esse procedimento deve ser seguido à risca antes de conectar ou desconectar o sistema dialítico (Mermel et al., 2020).

Durante a conexão e desconexão, é fundamental manter um ambiente estéril. Utilize campos estéreis, minimize conversas para evitar gotículas, e assegure-se de que todo o sistema está bem fechado e fixado. A técnica precisa ser segura e precisa, reduzindo o risco de entrada de microrganismos e vazamento de sangue (Mermel et al., 2020).

A fixação do cateter é outro ponto importante. O dispositivo deve estar bem preso, com curativo transparente que permita a visualização do ponto de inserção. Observar sinais como vermelhidão, dor local, calor ou presença de secreção pode indicar infecção ou complicações. O curativo deve ser trocado regularmente, seguindo os protocolos institucionais ou sempre que estiver úmido, descolado ou sujo (Warady & Neu, 2022).

Além dos cuidados técnicos, o enfermeiro deve exercer uma escuta ativa e uma comunicação clara com a criança e sua família. Explicar o que está sendo feito, em palavras simples e com empatia, ajuda a diminuir o medo e fortalece a parceria entre equipe e cuidadores. O acolhimento é parte essencial do cuidado humanizado e fortalece o vínculo com o tratamento (Warady & Neu, 2022).

Exemplos Práticos e Situações do Dia a Dia

Situações reais fazem parte da rotina de quem cuida de crianças em hemodiálise. Imagine, por exemplo, uma criança de 6 anos que chega chorando à clínica e relata que o cateter está “ardendo”. Ao examinar, você percebe que o curativo está úmido, há vermelhidão ao redor do ponto de inserção e a criança demonstra desconforto ao toque.

Nessa situação, o mais importante é agir com rapidez e segurança. A primeira medida é suspender a sessão de hemodiálise imediatamente e avaliar clinicamente a criança. Devem ser verificados sinais de infecção, como febre, dor, secreção e alteração no estado geral. É fundamental comunicar o médico responsável e, se necessário, coletar culturas de sangue e do cateter para investigação microbiológica.

Além disso, é essencial reforçar com a família os cuidados domiciliares com o curativo e o manuseio do cateter. Orientações claras, repetidas de forma acessível, são fundamentais para garantir a adesão e reduzir riscos. Essas situações exigem do enfermeiro não só conhecimento técnico, mas também empatia, agilidade e segurança na tomada de decisão.

Benefícios para a Prática Clínica

Dominar os cuidados com o acesso vascular pediátrico traz benefícios diretos para a segurança da criança e para a rotina da equipe de enfermagem. Quando os protocolos são seguidos com precisão e constância, os riscos de infecção reduzem significativamente, o que impacta diretamente na qualidade de vida do paciente e na confiança dos cuidadores (Saxena & Shapiro, 2021).

Além disso, um cuidado adequado favorece o bom funcionamento da hemodiálise, evitando pausas ou intercorrências que podem comprometer o tratamento. Isso também traz mais tranquilidade para a equipe, que atua com mais segurança, e fortalece a imagem do enfermeiro como profissional essencial no processo dialítico pediátrico (Saxena & Shapiro, 2021).

Uma dica prática valiosa é criar um checklist diário de cuidados com o cateter, incluindo avaliação da pele, troca de curativo, higiene das mãos e checklist da técnica de manipulação. Reunir a equipe periodicamente para revisar esses pontos e promover capacitações rápidas e objetivas fortalece o alinhamento e a segurança do cuidado (Polito et al., 2022).

Conclusão

Cuidar de uma criança em hemodiálise é muito mais do que uma técnica: é um compromisso diário com a vida. E quando falamos do acesso vascular, falamos de uma via vital entre o tratamento e a recuperação. Cada cuidado, cada gesto, cada protocolo seguido com atenção pode evitar complicações graves e proporcionar mais qualidade de vida para a criança e sua família.

Por isso, investir na educação continuada e buscar a especialização em enfermagem nefrológica não é apenas uma escolha profissional — é uma atitude de responsabilidade e amor pela profissão. O futuro da hemodiálise pediátrica está nas mãos de enfermeiros preparados, humanos e tecnicamente atualizados.

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Referências

KDIGO (Kidney Disease: Improving Global Outcomes). (2023). Clinical Practice Guidelines for Vascular Access in Hemodialysis Patients.

McCulloch, M. I., & Valentini, R. P. (2020). Central venous catheters in pediatric hemodialysis: Risks, prevention, and management. Seminars in Dialysis, 33(5), 422–430.

Mermel, L. A., et al. (2020). Clinical practice guidelines for the diagnosis and management of intravascular catheter-related infection: 2020 update by the Infectious Diseases Society of America. Clinical Infectious Diseases, 72(2), e1-e64.

North American Pediatric Renal Trials and Collaborative Studies (NAPRTCS). (2021). Annual Dialysis Report.

Polito MG et al. (2022). Access in pediatric hemodialysis: what to choose and when? Pediatric Nephrology.

Saxena, A. K., & Shapiro, J. (2021). Care and maintenance of vascular access in pediatric hemodialysis patients. Seminars in Nephrology, 41(2), 144–153.

Warady, B. A., & Neu, A. M. (2022). Pediatric hemodialysis: Current practices and future directions. Pediatric Nephrology, 37, 15–29.

Warady, B. A., et al. (2022). Vascular access in pediatric hemodialysis: An update. Pediatric Nephrology, 37(1), 3–15.

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