Manuseio do Cateter de Diálise Peritoneal: Técnicas Essenciais de Enfermagem

Introdução

A diálise peritoneal é uma alternativa muito importante no tratamento da insuficiência renal crônica. Ela permite que o próprio corpo do paciente ajude na limpeza do sangue, usando uma membrana natural chamada peritônio, que reveste a cavidade abdominal. É por meio dessa membrana que o líquido de diálise entra em contato com o sangue e remove as toxinas, o excesso de líquidos e outras substâncias que os rins não conseguem mais filtrar.

Mas para que esse processo aconteça de forma segura e eficaz, um ponto é essencial: o bom funcionamento do cateter de diálise peritoneal. Esse cateter é como uma ponte — ele permite que o líquido de diálise entre e saia do abdômen com segurança. Se o cateter não estiver funcionando bem ou se for mal manuseado, o tratamento fica comprometido e o risco de infecções, como a peritonite, aumenta bastante.

É aqui que o papel do enfermeiro faz toda a diferença. O cuidado com o cateter vai muito além da técnica: envolve atenção aos detalhes, higiene rigorosa, orientação ao paciente e, principalmente, conhecimento. Enfermeiros que dominam essas técnicas se tornam peças-chave no cuidado do paciente renal, porque ajudam a prevenir complicações, melhoram a adesão ao tratamento e garantem mais conforto e tranquilidade para o paciente e sua família.

O que é o Cateter de Diálise Peritoneal?

A diálise peritoneal é uma forma de tratamento para pacientes com insuficiência renal crônica, permitindo que o próprio corpo, por meio do peritônio (uma membrana que reveste a cavidade abdominal), realize a filtragem do sangue. Para que esse processo ocorra, é necessário implantar um cateter na cavidade abdominal. Esse cateter é um tubo flexível, geralmente feito de silicone, que serve como passagem para o líquido de diálise entrar e sair do corpo durante o tratamento (Mehrotra et al., 2016).​

Existem dois tipos principais de diálise peritoneal:

  • Diálise Peritoneal Ambulatorial Contínua (CAPD): realizada manualmente pelo paciente várias vezes ao dia.
  • Diálise Peritoneal Automatizada (DPA): realizada com o auxílio de uma máquina durante o sono.

Independentemente da modalidade, o cateter é uma peça fundamental do tratamento. Se não for higienizado ou manipulado corretamente, o risco de infecções aumenta significativamente. Por isso, é essencial que os profissionais de saúde estejam atentos aos cuidados necessários com o cateter, garantindo a segurança e o bem-estar do paciente (Saxena & Prowant, 2020).​

Principais Técnicas de Manuseio que a Enfermagem Precisa Dominar

  • Higiene Rigorosa das Mãos: Antes de tocar no cateter ou no local de saída, é essencial realizar a higienização correta das mãos com água, sabão e álcool gel.É importante orientaro paciente a manter sempre as unhas curtas e limpas. E se possível, evitar o uso de esmaltes ou anéis (Gokal & Alexander, 2019);
  • Cuidados com o Local de Saída do Cateter (Orifício de Saída): O local onde o cateter sai da pele precisa de atenção diária. Isso inclui: observar se há sinais de infecção (vermelhidão, secreção, dor ou inchaço); fazer curativo limpo, seco e estéril;trocar o curativo sempre que estiver úmido ou sujo.Por exemplo, seo curativo estiver úmido após o banho, ele deve ser trocado imediatamente. Um curativo molhado é porta de entrada para bactérias (Gokal & Alexander, 2019);
  • Técnica Asséptica Durante as Conexões: Ao conectar ou desconectar o sistema de diálise, é necessário utilizar técnica asséptica para evitar contaminação do líquido. Para isso, é necessário usar campo estéril, evitar tocar nas conexões com as mãos nuas e orientar o paciente a não falar ou tossir durante o procedimento. Estudos apontam que a técnica asséptica é a medida isolada mais eficaz para prevenir a peritonite, uma infecção grave da cavidade abdominal (Gokal & Alexander, 2019);
  • Fixação Adequada do Cateter: Um cateter bem fixado evita deslocamentos, tração e trauma na pele. O ideal é deixá-lo preso com fita adesiva hipoalergênica ou suporte adequado.Evite deixar o cateter solto dentro da roupa, pois isso pode gerar fricção e inflamações no local de saída (Figueiredo et al., 2021);
  • Educação do Paciente e da Família: O enfermeiro é responsável por orientar o paciente e seus familiares sobre:como cuidar do cateter em casa;quando procurar ajuda (sinais de infecção);como agir em caso de complicações. Por exemplo, umpaciente treinado corretamente tem menor chance de desenvolver peritonite. Estudos mostram que a educação do paciente reduz em até 60% os episódios de infecção (Figueiredo et al., 2021);
  • Registro de Alterações e Comunicação com a Equipe: O enfermeiro deve anotar diariamente o aspecto do local de saída, cor do líquido de drenagem e sintomas relatados pelo paciente. Isso permite intervenções precoces. Os sinais de alerta são: saída de líquido turvo; dor abdominal; febre; mau cheiro no curativo (Figueiredo et al., 2021).

Benefícios Para a Prática Clínica da Enfermagem

Dominar o manuseio do cateter de diálise peritoneal vai muito além de seguir protocolos. Esse conhecimento impacta diretamente a vida do paciente e a rotina clínica do enfermeiro. Quando o profissional sabe higienizar, manipular e orientar corretamente o uso do cateter, as taxas de infecção, como a peritonite e as infecções do túnel subcutâneo, caem significativamente. Estudos apontam que o treinamento adequado da equipe de enfermagem é um dos principais fatores de proteção contra complicações relacionadas ao cateter (Li et al., 2022).

Com menos intercorrências, o paciente sente mais confiança no tratamento, adere melhor às trocas de solução e, com o tempo, conquista mais autonomia. Ele aprende, junto ao enfermeiro, a cuidar do próprio cateter em casa, o que reduz hospitalizações, evita perda do acesso peritoneal e melhora a qualidade de vida (Li et al., 2022).

Para o enfermeiro, os ganhos são evidentes: destaque na equipe, valorização profissional e crescimento técnico. Cada cuidado com o cateter é também um cuidado com a carreira. A busca por atualização constante, como a leitura dos guias da Sociedade Internacional para Diálise Peritoneal (ISPD) e a participação em treinamentos práticos, contribui para uma atuação mais segura e eficaz. Trocar experiências com colegas de outras unidades também amplia a visão sobre diferentes realidades clínicas (Sanabria et al., 2020).

E claro, investir em uma pós-graduação em Nefrologia é um passo fundamental para se tornar referência na área. A especialização abre portas, consolida o conhecimento técnico e amplia as possibilidades de atuação em serviços de diálise e transplante renal (Sanabria et al., 2020).

Conclusão

O cateter de diálise peritoneal é muito mais do que um simples dispositivo médico. Ele é o elo entre o tratamento e a vida do paciente com insuficiência renal. E a forma como esse cateter é cuidado faz toda a diferença – especialmente quando está nas mãos de um enfermeiro preparado. Ser capaz de identificar sinais precoces de complicações, orientar o paciente com firmeza e empatia, e aplicar técnicas com segurança transforma completamente o desfecho clínico.

Você, enfermeiro, tem o poder de impactar diretamente o sucesso do tratamento dialítico. Mas para isso, precisa estar pronto. E isso começa com uma decisão: investir em sua formação.

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Referências

Figueiredo, A.E., et al. (2021). ISPD Peritoneal Dialysis Guidelines: Update on peritoneal dialysis-related infections. Peritoneal Dialysis International.

Gokal, R., & Alexander, S. (2019). Technical aspects of peritoneal dialysis catheter insertion and complications. Kidney International Supplements, 9(4), 342–349.

Li, P. K. T., Szeto, C. C., Piraino, B., et al. (2022). ISPD peritonitis guidelines: 2022 update on prevention and treatment. Peritoneal Dialysis International, 42(2), 110–153.

Mehrotra, R., Devuyst, O., Davies, S. J., & Johnson, D. W. (2016). The current state of peritoneal dialysis. J Am Soc Nephrol, 27(11), 3238–3252.

Sanabria, M., et al. (2020). Nursing care in peritoneal dialysis: Recommendations and evidence-based practices. Journal of Renal Care, 46(3), 165–172.

Saxena, A. B., & Prowant, B. F. (2020). Patient education and training in peritoneal dialysis. UpToDate.

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