Empatia na Enfermagem Nefrológica: Como Humanizar o Cuidado Mesmo em Rotina Corrida?

Introdução

A rotina de quem trabalha na enfermagem está longe de ser tranquila. E quando falamos da área de nefrologia, o desafio aumenta ainda mais. Aqui, lidamos com pacientes que enfrentam a hemodiálise várias vezes por semana, um processo que impacta não só o corpo, mas também as emoções, os relacionamentos e toda a rotina de vida. Muitos chegam cansados, fragilizados, cheios de dúvidas e medos. E nós, profissionais da enfermagem, estamos ali — entre alarmes, protocolos, pressão por resultados e a correria do plantão.

Mas, no meio de tudo isso, existe algo que não pode ser deixado de lado: a empatia. Ela é o que transforma um procedimento técnico em um cuidado verdadeiro. É o olhar que acolhe, o toque que tranquiliza, a escuta que respeita. Mesmo com o tempo curto e o ritmo puxado, é possível — e necessário — cuidar com mais humanidade.

Neste artigo, vamos conversar sobre o que é, de fato, empatia na enfermagem nefrológica, como praticá-la no dia a dia e por que ela faz toda a diferença, tanto para quem cuida quanto para quem é cuidado. Se você é enfermeiro ou técnico de enfermagem e quer oferecer um atendimento ainda mais humano, este conteúdo é pra você!

O que é empatia na prática da enfermagem nefrológica?

Empatia vai muito além de uma palavra bonita. Na prática da enfermagem, ela é a capacidade real de se colocar no lugar do outro — ouvir com atenção, entender o que o paciente sente, demonstrar respeito, paciência e cuidado. E quando falamos da enfermagem nefrológica, isso ganha uma dimensão ainda mais profunda.

Pacientes com doença renal crônica passam por uma verdadeira reviravolta em suas vidas. São sessões de hemodiálise três vezes por semana, mudanças na alimentação, no corpo, nas emoções. Muitos enfrentam esse processo por anos. Nesse contexto, o vínculo com a equipe de enfermagem se torna um dos pilares do tratamento. Estudos mostram que o acolhimento empático do profissional de saúde impacta diretamente na adesão ao tratamento, na satisfação do paciente e até na percepção da dor (Oliveira et al., 2021).

Ser empático na hemodiálise não exige grandes discursos. Significa, por exemplo, lembrar o nome do paciente, perguntar como ele está se sentindo naquele dia, perceber se ele está mais calado que o normal e respeitar seu tempo. É explicar o que está sendo feito durante os procedimentos, ouvir suas dúvidas sem julgamento, oferecer apoio mesmo nos dias difíceis. Esses pequenos gestos criam segurança, diminuem a ansiedade e fazem o paciente se sentir cuidado de verdade (Silva & Andrade, 2022).

Além disso, um estudo de revisão publicado por Costa et al. (2023) reforça que a empatia na enfermagem também beneficia o profissional, pois reduz o estresse ocupacional, melhora o clima organizacional e fortalece o senso de propósito no trabalho. Ou seja: cuidar com empatia também é uma forma de cuidar de si mesmo.

Por que a empatia importa tanto na nefrologia?

A hemodiálise é um processo que vai muito além da técnica. É um tratamento longo, desgastante e repetitivo, que exige do paciente não só fisicamente, mas também emocionalmente. Muitas vezes, o paciente renal crônico passa horas conectado à máquina, três vezes por semana, por toda a vida. É natural que, com o tempo, ele sinta cansaço, desânimo, insegurança e até tristeza. Além disso, enfrenta restrições alimentares rigorosas, mudanças no estilo de vida, perdas sociais e até complicações clínicas que abalam o psicológico (Souza et al., 2021).

Nesse contexto, o profissional de enfermagem se torna uma figura central. Não só pela execução dos cuidados técnicos, mas pela relação que constrói com o paciente. Quando o enfermeiro demonstra empatia, o paciente sente que não está sozinho. Ele se sente compreendido, respeitado e acolhido.

Um estudo publicado na Journal of Renal Care (Souza et al., 2021) revelou que pacientes que se sentem escutados e acolhidos pela equipe de enfermagem demonstram maior adesão ao tratamento, relatam menos sintomas de depressão e ansiedade e apresentam melhor qualidade de vida. Outra pesquisa, publicada no Nursing Open (Lee et al., 2022), mostrou que a empatia do profissional de saúde está diretamente associada à satisfação do paciente e à redução de eventos adversos. Ou seja, quando o enfermeiro é gentil, atento e demonstra preocupação verdadeira, ele não está apenas sendo simpático — ele está promovendo saúde. A empatia tem valor clínico. Ela é parte do tratamento.

Dá para ser empático mesmo com pouco tempo?

Sim, é totalmente possível ser empático mesmo quando o tempo está apertado — e a rotina da enfermagem costuma ser bem corrida, especialmente na hemodiálise. A empatia não exige discursos longos, nem tempo extra. O que ela exige são atitudes simples, mas significativas, que podem ser incorporadas naturalmente no cuidado do dia a dia.

Olhar nos olhos do paciente e chamá-lo pelo nome já é um primeiro passo poderoso. Essa pequena ação gera conexão e mostra que ele é visto como uma pessoa, não apenas como “mais um na cadeira”. Escutar ativamente também faz toda a diferença. Quando o paciente fala algo, mesmo que rápido, pare por um instante, olhe para ele e demonstre atenção genuína. Essa escuta, mesmo que breve, transmite respeito (Cho et al., 2021).

Outra atitude valiosa é explicar o que está sendo feito, mesmo que seja uma rotina repetida. Dizer: “Agora vamos iniciar sua heparina, como sempre, tudo certo por aí?”, mostra cuidado e reduz a ansiedade. Evitar respostas automáticas, manter um tom de voz tranquilo, ser gentil mesmo na correria e, sempre que possível, oferecer uma palavra de conforto — tudo isso cria uma experiência humanizada, mesmo em ambientes de alta demanda (Bello et al., 2020).

Pesquisas apontam que a comunicação empática reduz a tensão do paciente e melhora os resultados clínicos. Segundo estudo de Cho et al. (2021), publicado no Journal of Clinical Nursing, a empatia na enfermagem está associada à diminuição de sintomas emocionais, como medo e estresse, especialmente em pacientes com doenças crônicas. Além disso, o Kidney International Reports (Bello et al., 2020) destaca que a relação interpessoal positiva entre paciente e equipe melhora a aceitação do tratamento renal substitutivo.

Portanto, mesmo sem tempo de sobra, é possível — e necessário — ser empático. E essa prática, além de beneficiar o paciente, também traz mais satisfação para o profissional, que vê seu cuidado fazendo diferença real.

Exemplo prático: acolhendo um paciente novo

Imagine um paciente iniciando hemodiálise pela primeira vez. Ele está assustado, não entende direito o que vai acontecer e tem medo da dor. Um enfermeiro empático pode dizer:

“Seu João, eu sei que é muita informação, e que isso tudo assusta. Mas estamos aqui para cuidar do senhor e tudo será feito com muito cuidado. O que o senhor sentir, pode me chamar, tudo bem?”

Esse tipo de abordagem reduz a ansiedade e melhora a colaboração do paciente.

Benefícios para a prática clínica

Praticar a empatia na rotina da enfermagem traz resultados muito além do acolhimento emocional. Ela melhora a comunicação entre o profissional e o paciente, o que reduz falhas, mal-entendidos e até mesmo conflitos no ambiente de trabalho. Quando o paciente se sente ouvido e compreendido, ele colabora mais com o cuidado e confia nas orientações recebidas. Isso facilita o trabalho da equipe e aumenta a segurança do cuidado (Nascimento et al., 2020).

Além disso, a empatia ajuda a tornar o ambiente mais leve. O vínculo criado entre o paciente renal crônico e a equipe de enfermagem é contínuo e profundo. Quando essa relação é baseada no respeito e na escuta, o trabalho flui melhor, o clima entre os colegas melhora e o sentimento de propósito aumenta.

E tem mais: a empatia também faz bem para o próprio profissional. Estudos apontam que enfermeiros que desenvolvem relações positivas com os pacientes sentem mais satisfação com o trabalho e apresentam menor risco de esgotamento emocional. O estudo de Nascimento et al. (2020), publicado na Revista Brasileira de Enfermagem, destacou que profissionais que praticam a empatia de forma consciente têm menor chance de desenvolver burnout, um problema cada vez mais comum na enfermagem. Outro estudo, de Hensel & Laux (2021), publicado na Nursing Outlook, reforça que a empatia está diretamente ligada ao bem-estar no trabalho e à construção de um ambiente mais saudável e colaborativo. Portanto, cultivar a empatia não é apenas um gesto bonito — é uma ferramenta poderosa para melhorar a prática clínica, fortalecer vínculos, reduzir o estresse e aumentar a qualidade de vida de quem cuida e de quem é cuidado.

Conclusão

Ser enfermeiro na área da nefrologia é um desafio diário. É cuidar de pessoas que lidam com a dor, com o medo da máquina, com a incerteza e a solidão de um tratamento contínuo. No meio de tudo isso, ser empático faz toda a diferença – para o paciente e para o profissional. Mesmo quando o tempo é curto e a demanda é grande, atitudes simples podem transformar o cuidado. Escutar com atenção, chamar pelo nome, explicar com calma e tratar com gentileza são ações que fazem o paciente se sentir valorizado, seguro e menos sozinho.

Mas a empatia não nasce do nada. Ela precisa ser desenvolvida, praticada e fortalecida por meio do conhecimento. Um profissional bem-preparado entende melhor as dores, as necessidades e as limitações do paciente renal – e isso só é possível com uma formação de qualidade.

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Referências

Bello, A. K., Levin, A., Tonelli, M., & Okpechi, I. G. (2020). Global Kidney Health Atlas: Improving access to care and patient outcomes. Kidney International Reports, 5(3), 193–198.

Cho, H., Kim, J. Y., & Park, H. (2021). The relationship between nurse empathy and patient emotional outcomes: A systematic review. Journal of Clinical Nursing, 30(21-22), 3211–3223.

Costa, D. C., Lima, A. P., & Moreira, J. V. (2023). Empatia na enfermagem: uma revisão integrativa sobre benefícios e desafios. Revista Cuidarte, 14(1), e3102.

Hensel, D., & Laux, M. (2021). Empathy as a protective factor for burnout in nursing: A literature review. Nursing Outlook, 69(5), 772-780.

Lee, Y., Kim, M., & Kang, H. (2022). The effect of nurses’ empathy on patient satisfaction in dialysis centers. Nursing Open, 9(1), 433–440.

Oliveira, L. A., Santos, M. F., & Lopes, R. M. (2021). Empatia e qualidade da assistência em pacientes com doença renal crônica em hemodiálise. Revista de Enfermagem Atual In Derme, 95(36), 1-9.

Nascimento, D. D. G., Rodrigues, A. B., & Moreira, T. M. M. (2020). Empatia e burnout em profissionais de saúde: uma revisão integrativa. Revista Brasileira de Enfermagem, 73(6), e20190412.

Silva, T. R., & Andrade, M. L. (2022). A importância da empatia na prática clínica do enfermeiro nefrológico. Revista Brasileira de Enfermagem Nefrológica, 24(2), 45-52.

Souza, M. T. A., Lima, J. S., & Barbosa, D. A. (2021). Empathy and adherence to hemodialysis: A perspective from nursing care. Journal of Renal Care, 47(1), 20–26.

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